sábado, 8 de agosto de 2009

O sigilo bancário

Como já se vem tornando hábito, comecemos este post com o tradicional comentário cinéfilo. Segue-se a lista dos filmes mais recentes que caem na categoria absolutamente imperdível:

  • Two lovers
  • Brüno
  • Star Trek (2009)
  • Knowing
  • This is England

Posto isto, que dizer, então, relativamente ao sigilo bancário, de que tanto se falava há algumas semanas?


Caros amigos, o sigilo bancário é um não assunto. Pelo simples facto de que não existe, nunca existiu e nunca vai existir.


Aqueles que me conhecem sabem que não sou dado a teorias de conspiração nem dramatismos exagerados, pelo que volto a repetir: a discussão sobre o sigilo bancário é um monumental exercício de cosmética, já que a Banca (para usar o termo oficial) faz o que quer com os nossos dados e informações. Ao cidadão comum resta prestar atenção ao que se passa e agir quando detectar algo invulgar.


Permitam-me que elucide estes pontos com três casos reais que sucederam comigo recentemente.


Caso 1) Adesão ao Cartão de Crédito Citibank


Há alguns anos fui abordado pelos rapazes do Citibank, que me ofereciam a possibilidade de ter um dos seus cartões de crédito. Sendo a anuidade nula pensei Porque não? Afinal, viajo bastante e nunca se sabe se o cartão que uso regularmente vai ficar preso numa máquina ou desmagnetizado.


Preenchi a proposta e tive o cuidado de deixar em branco todo o bloco respeitante a pagamentos por débito directo na conta. Repito: deixei em branco os campos relativos à autorização do débito directo na conta. Não forneci o meu NIB, não coloquei uma cruz a dizer Sim, autorizo-vos a mexerem na minha conta sempre que vos apetecer, nem sequer assinei essa parte.


Ponto.


Algumas semanas depois recebi o meu cartão Citibank e respectivo código. Óptimo.


Alguns dias depois recebi uma nova carta do Citibank que começava com a frase Estimado Sr. João Correia, temos o grato prazer de informar que o débito directo da sua conta com o NIB nº XXXXX foi activado. ??? pensei, enquanto pegava no telefone e ligava para o número de apoio que vinha no rodapé. What the fuck?? perguntei-lhes, de forma um pouco mais educada e convertendo devidamente a expressão para a nossa língua mãe… A voz do outro lado não ofereceu, obviamente, qualquer explicação para o facto de que acabara de receber uma notificação de autorização para algo que eu não autorizei. Mas a voz despendeu bastante tempo a tentar demonstrar-me que o pagamento por débito directo na conta é, de longe, a forma mais cómoda de proceder a pagamentos. Respondi Meu caro, eu não vou discutir com uma voz, que não conheço, como faço a gestão dos meus rendimentos, ok? Cancele o débito directo da minha conta ou cancele o meu cartão.


Depois de mais algumas tentativas a voz percebeu que eu ia mesmo cancelar o cartão e lá me explicou que não lhe era possível cancelar o débito directo na conta. Contudo, explicou-me como qualquer um de nós pode fazê-lo:

  • Basta ir a uma caixa Multibanco
  • Inserir o cartão
  • Escolher Outras operações
  • Escolher Débitos directos
  • Escolher a empresa cujo débito directo pretende cancelar
  • Escolher cancelar

Et voilà. É muito fácil.


E foi exactamente isto que fiz, segundos depois de desligar, através do meu online banking. O passo final da história passou-se no balcão bancário que uso regularmente. Coloquei a carta do Citibank em cima da mesa e perguntei O que é isto? Responderam-me É uma autorização de débito automático da sua conta neste banco. Ao que eu respondi Então explique-me, por favor, a razão de ser desta carta tendo em conta que eu nunca dei autorização a esta empresa para me debitarem a conta. É claro que não me conseguiram explicar e só ouvi uns meros Pois… Sabe que isto, hoje em dia, é tudo automático... Já nem passa por nós..., etc.


Caso 2) Adesão ao Cartão de Crédito Barclaycard


A segunda história até seria divertida, se não fosse uma corroboração gritante do estado Big Brotheresco em que vivemos hoje em dia…


A segunda história pode ser resumida como segue: voltem a ler a história anterior mas coloquem-na dois anos mais tarde no tempo e substituam Citibank por Barclaycard.


É só.


Reparem bem:


  • Não assinei a autorização de débito em nenhum dos dois casos
  • Ambas as empresas conseguiram que o meu banco as autorizasse a tirarem-me dinheiro da conta
  • Em ambos os casos tive a sorte de não mandar para o lixo as cartas que comunicavam as autorizações dos débitos automáticos
  • Em ambos os casos cancelei os ditos
  • Em ambos os casos os funcionários do meu balcão ficaram a olhar para mim, quando os confrontei com a situação, com aquela cara de Desculpe lá… Isto, hoje em dia, é mesmo assim...

Caso 3) O erro de sistema do Barclaycard


Este terceiro caso nem sequer lida directamente com sigilo bancário, embora ateste muitíssimo bem o mind set destas empresas. Hoje em dia ainda tenho o cartão Citibank, embora o use muito raramente. Cancelei o Barclaycard, contudo, há alguns meses. E passo a explicar porquê: todos os meses aparecia um débito de 30 cêntimos. Reparem que não usava o cartão, pelo que este débito era muito óbvio, por ser a única linha no campo da discriminação dos movimentos. Nem sequer tinha data valor ou uma descrição. Apenas indicava um débito de 30 cêntimos. Liguei, com algum embaraço, para o Barclaycard e perguntei Que débito de 30 cêntimos é este que me aparece todos os meses? É um erro de sistema, pode ignorar. foi a resposta que me deram. E, de facto, ignorei. Nunca paguei os 30 cêntimos e habituei-me a vê-los no extracto.


Eventualmente acordei para o facto de que o único motivo porque o débito de 30 cêntimos era tão óbvio para mim era o simples facto de ser o único no extracto. Se tivesse um extracto normal, ou seja, com algumas dezenas de linhas de movimentos, é natural que o débito dos 30 cêntimos passasse completamente despercebido e fosse pago. Imaginem, agora, os milhares de pessoas que recebem extractos em casa e os pagam. Imaginem os milhares de 30 cêntimos que os utilizadores do cartão pagam ao Barclaycard mensalmente.


E tudo graças a um Erro de sistema que, teimosamente, não foi eliminado durante os 12~14 meses em que tive o cartão desta empresa, que já devolvi e cancelei.


Erro de sistema.


Yeah, right…

5 comentários:

middle finger disse...

Boas professor, tudo bem?

fico contente que tenha voltado a escrever. Já cá faltava as suas criticas construtivas.

Ora bem, em relação ao cinema tenho a dizer que o Sacha Baron Coen é um actor fenomenal, vive as personagens de uma maneira bastante intensa, e apesar de algumas partes do filme serem obviamente combinadas, não se pode tirar o mérito a este camaleão, que é capaz de viver a sua personagem 24 horas por dia (isto sim é representação).

Estou também em pulgas pela chegada do novo do Tarantino "Inglorious Basterds" .... é já dia 27 de agosto.

Quanto ao sigilo bancário ... essa gente só nos quer ir aos bolsos ... e a verdade é que conseguem!!!

São eles que nos governam e não os nossos políticos. Para ver a maneira como andamos a ser manipulados recomendo que veja o documentário "Zeitgeist: addendum" que fala sobre a banca, é fabuloso. Basta googlar, é grátis e dá pa ver online e com legendas.

Um grande abraço,
Bruno Ribeiro

Unknown disse...

Olá João ! O que me traz aqui é a semana do tubarão . A propósito desse evento , eu perguntei à Leonor Sousa ( que provavelmente conhecerás ) o seguinte : em certas zonas da Terra , como na Austrália , os tubarões andam muitas vezes perto da costa a atormentar os banhistas , e de vez em quando lá vai uma perna dum surfista . Noutras zonas da Terra , como é o caso de Portugal , os tubarões andam sempre ao largo , e que eu saiba nunca houve ataques a veraneantes . Conheces alguma razão para esse comportamento dúplice ? A Leonor respondeu que a pergunta era interessante e que tu eras a pessoa indicada para responder . Espero que vejas esta mensagem e desde já obrigado pela resposta . Um abraço do Nuno .

João Correia disse...

Olá Nuno,

Conheço muito bem a Leonor Sousa. :-) Já fomos casados mas fizemos um "upgrade" à nossa relação e, agora, somos "amigões". :-)

A resposta à tua questão é muito simples: comida.

Os tubarões andam onde a comida deles está:

1) Os tubarões-brancos da Califórnia e África do Sul alimentam-se predominantemente de focas e, por isso, estão perto delas. E, ocasionalmente, há colónias destas perto da costa.

2) Os tubarões de recife alimentam-se de bicheza de recife e, por isso, andam nos recifes.

3) A bicharada da nossa costa alimenta-se predominantemente de bicheza pelágica, de alto mar, como as Lulas e, por isso, não se aproximam das praias.

Mas, atenção, "eles andam aí" muito perto da costa! Só não nadam entre as pernas dos banhistas...

:-)

Mas nota que esta resposta foi um bocado "simples" demais e teria todo o prazer em bebermos uma Coca-cola e falarmos mais longamente sobre o assunto. A Leonor tem o meu contacto directo.

Abração,

J.

Unknown disse...

Olá João ! Eu não imaginava que vocês tivessem sido casados . Eu conheci a Leonor quando li o " Amanhã à Mesma Hora " . Uma obra-prima que tu deves conhecer . Depois disso tenho trocado algumas mensagens com ela através da net . Tal como está escrito no blog dela , a Leonor parece ser um gajo porreiro . Mas eu não a conheço pessoalmente .
Quanto a encontrarmo-nos para a tal coca-cola , por mim tudo bem . Podemos conversar sobre tubarões ou sobre outra coisa qualquer . É só combinar . Eu vivo em Lisboa . Um abraço do Nuno !

João Correia disse...

Super cool.

Falamos quando quiseres.

:-)

Abraço,

J.