quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Tolerância, at last?...

Há poucos dias o Papa Francisco chocou ao Mundo com uma mensagem que professa tolerância para com a homossexualidade. Ocorreram-me de imediato as palavras “it’s about fucking time”. Não deixa de ser positivamente espantosa a audácia com que a Igreja Católica tem tentado impor a sua visão a um planeta que, na sua maioria, vive completamente abstraído desta realidade. Tal dose de soberba só tem eco na igualmente presunçosa mania que o Mundo Ocidental (Europa e América do Norte) tem em impor a sua visão política a todos os restantes países.

A dada altura alguém devia oferecer um íman de frigorífico com as palavras “Live and let live” aos carolas que tomam estas decisões, particularmente à rapaziada homofóbica que não tolera o casamento gay nem a adopção por parte de casais homossexuais. Alguém lhes devia explicar que, dos 7 biliões de habitantes do planeta, nem todos adoptaram o modelo em que um homem e mulher se juntam, professam amar-se para o resto da vida e têm sexo duas-três vezes - na vida inteira - exclusivamente para gerar bebés. Alguém devia explicar a esses carolas que há sociedades – perfeitamente funcionais - em que um homem tem várias mulheres, outras em que uma mulher tem vários homens e outras, ainda, onde vários homens e várias mulheres vivem em completa liberdade sexual e tomam conta da prole uns dos outros.

O aspecto mais divertido de todos é a noção de que o nosso modelo é o melhor, seguramente porque está associado aos melhores resultados… Como se não fôssemos uma civilização em que UM TERÇO da população vive encharcada em Prozac, Zoloft e outros anti-depressivos… E andamos nós a tentar convencer o resto do mundo de que o nosso modelo é o mais funcional…


Yeah, right!...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Venga La Ursada!

Queridos amigos que, tal como eu, gostariam de ver o espectáculo conhecido como “tourada” abolido do menu das ofertas de entretenimento na nossa Pátria, tenho estado a pensar com alguma ponderação sobre este tema e cheguei a uma conclusão deveras preocupante: estamos todos errados.

As touradas não devem ser proibidas; muitíssimo pelo contrário, devem ser incentivadas e, mais importante ainda, o seu conceito deve ser expandido, ou mesmo franchisado, a outras espécies animais. Trata-se de uma oportunidade de negócio colossal e sinto-me profundamente embaraçado por só agora a ter detectado. Mas vale mais tarde do que nunca e passo a explicitar melhor o meu raciocínio que, perdoem-me a imodéstia, considero brilhante porque nos vai colocar num patamar de riqueza com o qual nunca ousámos sonhar.

Ora vejamos, qualquer ser com um entendimento rudimentar sobre o mundo dos negócios sabe que a chave de sucesso de uma actividade comercial é reduzir custos e aumentar os lucros. Nesta linha a tourada afigura-se-me como um verdadeiro modelo de perfeição empresarial, já que os custos são suportados por financiamentos camarários, ou seja, pelos impostos de todos os cidadãos e não pelos indivíduos que auferem os lucros. Quem cozinhou este business plan merece, sem dúvida, um Nobel da Economia. Adicionalmente, veja-se que é um mercado com pouquíssima concorrência, contando-se os players - verdadeiramente dignos desse nome - com os dedos de duas mãos (de um praticante não-muito-habilidoso de tiro com arco).

Em suma: os custos são suportados por todos os cidadãos contribuintes do país (incluindo-se aqueles que, com a sua triste falta de visão empresarial, são ainda teimosamente contra as touradas) e os lucros vão para os bolsos da meia-dúzia de ganadeiros, toureiros e emboladores que desenvolvem esta actividade comercial com uma astúcia que me tinha escapado por completo até à data. Louvados sejam os gloriosos forcados que contribuem de forma tão dinâmica, quanto dramática, para a festa brava sem auferirem um único tostão e, portanto, não contribuindo de todo para a diminuição dos lucros gerados pela proveitosa venda de bilhetes. Tiro, sinceramente, o chapéu a todos os empresários tauromáquicos pela sua visão de marketing tremendamente eficiente e original. Temos muito a aprender com estes rapazes se queremos tirar a nossa Pátria Lusitana da crise.

Pois parece-me, então, que um conceito tão incrivelmente brilhante não deve estar castrado a uma única espécie, sendo que Deus Nosso Senhor, na Sua infinita bondade e sabedoria, criou largos milhares de espécies animais através de um design tão inteligente quanto audaz, e colocou-as todas à nossa disposição, Sua espécie preferida, para que possamos auferir rendimentos simpáticos através da sua exploração para entretenimento e gáudio de crianças, jovens e adultos. Porque todos concordamos que nada é mais divertido do que ver um tigre a andar de bicicleta com um capacete nazi na cabeça, ou um ursinho de tou-tou na cintura a dançar vertiginosamente ao som de uma melodia Kusturikiana ou, claro, o expoente máximo do entretenimento animalesco, um possante touro bravo a levar com uns valentes ferros no dorso - cravados pelas mãos hábeis de um cavalheiro de roupa justinha, meias cor-de-rosa e sabrinas, sendo este o ensemble garantidamente mais sexy de todo o mundo do espectáculo. Atrevo-me a sugerir que este guarda-roupa só é ultrapassado, em espectacularidade, pelos orçamentos bilionários da cadeia Cirque du Soleil que, coitados, são uns patetas sem visão empresarial  e desenvolvem os seus espectáculos, pelo mundo inteiro, sem recorrerem a um único animal, o que seguramente tem um impacto tremendamente negativo na sua facturação.

À luz destas considerações, e que tal se o conceito tourada for expandido a essa outra família de grandes mamíferos… Os ursos?? Deixem-me explanar o brilhantismo do meu raciocínio antes de assumirem que perdi o juízo. Vejamos, as ursadas são uma excelente forma de proteger os ursos da extinção a que as perdas de habitat natural os votaram inexoravelmente. Este sentimento é quase tão saudável quanto o altruísmo quasi-divino com que os empresários tauromáquicos mantêm o espectáculo da tourada, fazendo-o meramente para preservar a raça do touro bravo, num gesto de bondade e preocupação pela preservação da biodiversidade que rivaliza com as ONGAs mais fervorosas. Interrogo-me, até, se este será o momento adequado para recordar que o público consome carne bovina há séculos imemoriais e, sendo a carne de touro bravo particularmente apreciada pelo estatuto free range destes nobres animais, rápida e merecidamente escalou para um patamar de distinção gourmet que efectivamente impede uma espécie de se extinguir, porque o mercado que a consome é simplesmente valioso demais. Mas, à cautela, será melhor que me afaste deste tópico e que deixemos os empresários tauromáquicos continuarem a acreditar que, sem eles, o touro bravo está votado à extinção. Não queremos que pensamentos de natureza subversiva, como a exploração alternativa do touro bravo para consumo humano, os impeçam de darem continuidade à sua nobre missão de salvamento do touro.

Voltemos aos ursos. O casting destas simpáticas criaturas peludas nas em-breve-famosas ursadas não se destina unicamente a salvá-los das terríveis garras nefastas das alterações climáticas e outras perdas de habitat de natureza antropogénica…. Vejam-se bem as oportunidades de negócio colaterais que surgem, como o embolamento não só de duas míseras pontas mas sim de uma bela dezena de garras e não menos caninos numa bocarra mortífera. Sim, porque seria tonto imaginar os urseiros a enfrentarem um urso pardo de uma tonelada sem que este tivesse os dentinhos e unhacas devidamente embolados com umas resistentes carapuças de cabedal. Mesmo assim, ao mencionar a cavidade bucal ursina ocorre-me um probleminha… É que o urso não é obrigatoriamente quadrúpede, como o touro bravo, e tem o condão de se bipedizar quando as circunstâncias assim o ditam. Isto torna-o infinitamente mais perigoso, pelo que recomendo vivamente que o toureio, ou melhor, urseio seja conduzido não em cavalos mas sim em… elefantes. Essa luta parece-me francamente mais equilibrada e gera uma nova oportunidade de negócio até aqui negligenciada: a criação de elefantes na fecunda e aprazível lezíria ribatejana e na belíssima dehesa andaluz.

Aí, sim, estaremos perante uma luta tão nobre e equilibrada quanto a actual tourada, embora confesse a minha ignorância quanto a este conceito de equilíbrio, que sempre associei a bipolarizações do género 50/50 ou, vá, 60/40. Parece-me, contudo, que o rácio de esburacanço na tourada é mais de 999 para 1 contra o touro mas, repito, seguramente que estou a incorrer numa grande injustiça e que o número de ferimentos contundentes nos profissionais tauromáquicos é bem mais abundante do que aquele de que nos conseguimos aperceber.

Consideremos ainda outra vantagem adicional, particularmente quando a ursada envolve as magníficas espécies Ursus maritimus ou Ailuropoda melanoleuca, também conhecidas como Urso polar ou Urso panda, respectivamente. Imagine-se o factor drama quando estes ursinhos rugem e saltitam alegremente pela arena com o pêlo branco manchado de sangue tão vermelho quanto viscoso e com aquele aroma ferroso que excita e apura os sentidos. Qualquer realizador de aspirações hollywoodescas confirmará que esse impacto visual não tem preço e distancia-se com brilhantismo do pálido contraste entre o vermelho sanguíneo e o entediante pêlo preto do touro. Estendamos novamente agradecimentos e aplausos aos bravos forcados, que encostam as faces pálidas ao dorso ensanguentado do touro quando o pegam de caras e nos permitem, público sedento de cor e bravura, validar que o animal está realmente coberto de sangue. Se não fosse esse gesto bondoso de, chamemos-lhe, validação cromática, o público (que pagou um bilhete, não esqueçamos) sairia da arena sem ter tido a oportunidade de ver o vermelho que jorra das perfurações infligidas pelos ferros cravados no dorso do touro, o que é completamente inaceitável. Na ursada polar ou ursada pandística esse perfuramento é por demais evidente e os forcados podem concentrar-se exclusivamente na árdua tarefa de travar o movimento da besta, cuja ferocidade permanece obviamente intocada após o cravanço de uma dúzia de ferros no lombo.

Resta-me terminar com um apelo de natureza marketinguística, já que o timing para a ideia que vou partilhar convosco é simplesmente perfeito e vão já perceber porquê: e que tal se atirarmos com ursinhos e tourinhos para a arena e os deixarmos degladiarem-se freneticamente até que apenas um esteja de pé e enviamos, então, um toureiro, ou urseiro, dependendo de quem vencer a luta, para arrumar o espectáculo? Esta luta traria nova dimensão à eterna batalha entre os mercados Bullish e Bearish (em alta e em baixa, respectivamente) que se desenvolve continuamente nas bolsas de valores de todo o mundo. A emblemática estátua da luta do touro contra o urso, em Wall Street, vende milhares de figurinhas e ímans de frigorífico todos os santos dias. Porque diabo não podemos nós, nação que trouxe novos mundos ao mundo, facturar uns trocos vendendo action figures dos nossos touros a enfiarem uns cornitos nas pançolas dos ursinhos? A oportunidade está aí; só falta aproveitá-la.

Por todos estes motivos me parece que a ursada é merecedora de mais atenção por parte do sector que explora os lindos animais que Deus nos deu para que facturemos umas massas extra. Desde que se mantenha o plano-de-negócio em prática nas touradas até à data, tudo correrá bem e há imensos lucros à espera de serem gerados. Eu cá não pretendo deixar esta oportunidade escapar e vou já directo à primeira Calzedonia que me aparecer para comprar umas leggings rosa-choque porque quero estar no meu melhor quando espetar o primeiro ferro no dorso de um feroz urso sob aplausos intensos e cornetadas inspiradoras! Mal consigo esperar! Quem me dera ter tido esta ideia mais cedo!

Y Venga el Orso!

Olé!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Seriously?…

Seriously?…

Esta expressão tipicamente Americana entrou na moda há relativamente pouco tempo e não me recordo de outra circunstância em que o seu uso tenha sido tão adequado como na sequência da recente nomeação de Maria Luís Albuquerque para Ministra das Finanças…

Seriously?…

Permitam-me já o disclaimer de que não tenho competência técnica, nem moral, nem de espécie alguma para julgar a capacidade da senhora de desempenhar esta função. E também não faço a mais pequena ideia de quão legítimas são as acusações de “gestão danosa” da Refer na sequência da aquisição dos famosos (ou melhor, “infames”) “swaps”, sobejamente conhecidos pela sua toxicidade financeira.

Mas “toxicidade” é, seguramente, o termo a aplicar aos fuminhos que exalavam da sala onde o nosso estimado PM, e respectivos conselheiros, tomaram a decisão de nomear MLA para Ministra. Ainda por cima, não do Ministério dos Parques Infantis mas sim das Finanças.

Não deixa de ser divertido imaginar o diálogo, às tantas da manhã…
-          Eh pá, então quem é que metemos nas Finanças, agora que o Gaspar deu de frosques e temos os troikos aí à porta para a oitava avaliação?…
-          Chiça, não sei… Se calhar o José Gomes Ferreira, ou o Medina Carreira, ou um desses carolas que percebem de Economia e sabem fazer contas… Afinal de contas, o Carreira previu esta macacada toda há dez anos… Ele tem um entendimento acima da média destas tretas…
-          Hmmm… Não sei… Não sei… Parecem-me demasiado opinativos… Então e aquela miúda?… Como é que ela se chama?… A não sei quê Albuquerque…
-          Quem? A dos swaps??…
-          Pois, essa mesmo! Essa é que era, pá! A mulher é rija que se farta! Ela mete-nos as contas na ordem!
-          Oh chefe, acha isso acertado?… Então não acha que o povaço vai andar nos táxis, nos cafés e no Facebunker a dizer “Então o tipo mete uma pessoa que está a ser investigada por “gestão danosa” à frente do Ministério das Finanças??”
-          Pois… É provável… Mas eles já estão habituados, coitaditos… Mandam uns pulos, e põem uns Likes, nos primeiros 2~3 dias mas, depois, sai alguém da Casa dos Segredos e eles deixam de pensar nisto…
-          Ó chefe, tem mesmo razão… O chefe sabe mesmo como funcionam as massas!… Vê-se tão bem que leu muito Malcolm Gladwell.
-          Ah! Ah! Ah! Lá está você a dar graxa outra vez… Arranje-me lá o número de telefone da menina Albuquerque para eu lhe ligar a dar a boa notícia e vamos dormir, que já se faz tarde…
-          É p’ra já!


Enfim… Repito o que disse no início: falta-me a qualificação técnica para avaliar o calibre desta decisão e faço parte do vasto grupo de pindéricos que usam a internet para disseminarem a sua opinião sobre matérias acerca das quais conhecem o que os jornais e o Facebunker lhes dão a conhecer. Mas, nas palavras sábias de T. S. Elliot, Politics has become too serious a matter to be left to politicians.