domingo, 6 de janeiro de 2008

Os americanos e o Bin Laden

Fiquei perfeitamente atónito com a notícia do cancelamento do Lisboa – Dakar 2008. Confesso que ainda não recuperei do choque e considero que esta é uma das notícias mundialmente mais significativas dos últimos tempos. E é com muita pena que verifico, mais uma vez, que a imprensa, e a sociedade em geral, não aproveitam para colocarem as questões certas.


Por exemplo:

  • Questão 1: Do que é que os americanos estão à espera para apanharem o Bin Laden?
  • Questão 2: Se os palermas da Al Qaeda tiveram este resultado com uma simples ameaça verbal, o que vai ser do mundo a partir de agora? Quando os gajos nos mandarem saltar, saltamos todos, sob pena de ataques terroristas?
  • Questão 3: Quando é que Deus dá uma coluna vertebral aos Franceses?

Não resisto a tecer alguns comentários adicionais a estas questões.


Relativamente à primeira questão, já todos temos uma resposta (não oficial) na ponta da língua e essa resposta é, simplesmente: Os americanos não apanham o Bin Laden porque não o querem apanhar. Esta teoria não é novidade.


Mas, se eu fosse jornalista, principalmente de um jornal de grande tiragem norte-americano, eu aproveitaria este episódio triste para perguntar, preto no branco: como é possível que o exército mais poderoso que a Humanidade já alguma vez conheceu não consiga capturar um velhote que vive, supostamente, numa caverna do Afeganistão, atrelado a uma máquina de hemodiálise e um gerador? Vejamos:

  • Os tipos têm satélites que conseguem vigiar os pêlos púbicos de todos os indivíduos que vivem neste planeta, incluindo os seus animais de companhia;
  • Os tipos conseguem monitorizar os emails que circulam pelo mundo inteiro, e apanhar palavras-chave (i.e. flags), através do sistema Echelon;
  • Os tipos conseguem entrar nas contas bancárias de todos, prender toda a gente sem causa justa, atirar com qualquer pessoa com o teor de melanina mais elevado na pele para dentro dum calabouço e dar-lhe choques eléctricos nos testículos até ele confessar o assassinato do Presidente Abraham Lincoln, há mais de cem anos;
  • Os tipos têm aviões, tanques, óculos de visão nocturna, coletes em Kevlar, mísseis tele-guiados que podem ser apontados para a carica de uma garrafa de Coca-cola dentro de um armazém;
  • Já para não falar de uma população altamente motivada para vestir 50 quilos de equipamento e ser despachada para o mundo inteiro e matar infiéis como modo de vida, etc., etc., etc.

Como é que esta máquina de guerra altamente poderosa não encontra o caraças de um velhote há mais de seis anos?


Mas a questão mais pertinente de todas, na minha perspectiva, é, simplesmente, porque é que a imprensa mundial não coloca esta questão continuamente, sem cessar, sem parar? Encostem os tipos às cordas! Perguntem-lhes isto a toda a hora, como se fossem o Bart e Lisa Simpson no banco de trás do carro do Homer, em viagem: Are we there, yet? Are we there, yet? Are we there, yet? Are we there, yet? Quando é que vocês apanham o Bin Laden? Quando é que vocês apanham o Bin Laden? Quando é que vocês apanham o Bin Laden? Quando é que vocês apanham o Bin Laden? Quando é que vocês apanham o Bin Laden?


Se os tipos forem suficientemente pressionados, eventualmente só terão uma de duas saídas:

  • Saída um: apanhar o caraças do Bin Laden;
  • Saída dois: responder continuamente não conseguimos.

Porque, obviamente, os tipos não nos podem dar a resposta que todos gostaríamos de ouvir, e que é Rapazes, vocês não levem a mal, mas ainda não apanhámos o Bin Laden porque não nos dá muito jeito, ok? Questões económicas, tem a ver com o Petróleo, taxas de juro, e tal... Muito complicado... Não se preocupem com isso e deixem-nos tratar destes assuntos, que é para isso que cá estamos, ok? Agora vão lá à vossa vidinha e deixem-nos trabalhar descansados. Sabem que mais? Eu até teria algum respeito por um político que tivesse os cojones de me responder isto porque, pelo menos, era uma resposta honesta.


Vamos à segunda questão, que nos remete imediatamente para um campo empedrado no Afeganistão, onde os homens da aldeia correm de um lado para o outro, montados nos seus cavalos, e usam uma cabra (morta) como bola de futebol. Nas bancadas, desse jogo colorido e divertido, o Bin Laden e os seus amigos (e o sussuro tecnológico da máquina de hemodiálise, acompanhado do berreiro estridente do gerador) rebolam de tanto rir. Eh pá, por esta é que eu não esperava! Chiça, foi só escrever uma cartita com umas ameaças e aqueles patetas cancelaram aquela treta toda? E agora têm de indemnizar não sei quantos milhões aos concorrentes?! É lindo, caragos!


Mas imagino que a risota não fique por aqui e que os malfeitores (para usar a expressão de que o Presidente GWB tanto gosta) já se tenham apercebido da verdadeira significância deste acto. Ó rapazes! Vocês já se aperceberam do que é que isto significa? A trabalheira que isto nos vai poupar? Se já soubéssemos desta em 2001 não precisávamos de ter mandado aquela malta toda tirar o brevet lá na Florida! E não precisávamos de ter mandado o World Trade Center ao chão o que, a brincar a brincar, ainda me foi ao bolso nuns milhares porque o meu portfolio de acções em empresas americanas levou um valente tiro com aquela brincadeira toda. E também não precisávamos de ter mandado aos ares aquele comboio espanhol. Se bem que, essa, até nos valeu a pena porque, afinal, sempre conseguimos que os soldaditos espanhóis que estavam no Iraque fossem a toque de caixa para casa...


Moral da história: o que é que se segue? O Bin Laden diz aos Portugueses Ou vocês fecham os Pastéis de Belém, ou nós mandamos a Ponte 25 de Abril abaixo? É uma pena estes rapazes não canalizarem este poder imenso para o Bem, em vez de o utilizarem sistematicamente para o Mal. Porque é que eles não se viram para os Japoneses e exigem Ou vocês param de matar baleias ou nós mandamos pelos ares todos os vossos jogos de Baseball, seus imitadores de americanos da treta... Ou já se esqueceram que os gajos vos pulverizaram duas cidades em 1945? Mas, também, do que é vocês estavam à espera, depois de nivelarem Pearl Harbor sem aviso nenhum?


Os acontecimentos tristes em torno do cancelamento deste Dakar levam-nos imediatamente à terceira e última questão. Já todos sabíamos que os Franceses não têm grande estômago para lidar com adversidade. Aliás, recordemo-nos na forma como capitularam incondicionalmente assim que a primeira bota nazi pisou um queijo Brie. Os tipos gostam de se armarem em espertos e de fingirem que são valentes, e é por isso que testavam ogivas nucleares no Atol de Muroroa, nos anos 80, apesar da indignação da comunidade internacional. Mas, convenhamos, a O.N.U. passava-lhes uns raspanetes e os gajos largavam as bombas na mesma, simplesmente porque não havia ninguém a fazer-lhes frente de uma forma séria.


Mas, agora, a Al Qaeda ameaça mandar umas bombas no Rali e qual é a resposta deles? Aumentar a segurança? Não. Pedir ajuda aos americanos que, bem ou mal, enchiam os céus africanos de helicópteros e os desgraçados dos beduínos que ali andassem é que iam levar com os tiros quando não parassem a vozes de comando americanas Hold it right there, man! Do not take another step! Pimba, mais um beduíno morto. Mas não. Não foi nada disto que os franceses fizeram. Pediram desculpa aos participantes, começaram a fazer as contas e, olha, vamos todos para casa. Para o ano há mais.


Para o ano? Para o ano o Bin Laden volta a fazer o mesmo, ou vocês ainda não perceberam o precedente extraordinário que abriram? Para o ano vem outro telefonema. E no outro... E no outro... E no outro...