quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O fim do Mundo, dos Corais e da Pesca na Gronelândia

O Mundo está de pernas para o ar... O calendário Maia diz que vamos todos para o caraças no dia 21 de Dezembro de 2012. Bom, logo se verá. Para já, contentar-me-ei com duas horas bem passadas em frente à mega produção do Roland Emmerich que, espero, não me irá decepcionar.


Mas o que o calendário Maia não previu foi o fim dos corais, porque os Maias nunca imaginaram que os seres humanos dos nossos dias tivessem uma capacidade destrutiva tão elevada como, de facto, têm.


Cliquem em www.zsl.org/coralcrisis para verem a extraordinária apresentação do Prof. Charlie Veron sobre os perigos de concentrações de CO2 demasiadamente elevadas. Essencialmente, os corais - e outras formas e vida na Terra - deixarão de ter condições para exisitirem se não forem tomadas medidas urgentes.


No mesmo website também poderão assinar uma petição que tem como objectivo persuadir os líderes mundiais, que irão participar na Conferência Ambiental de Copenhaga, a manterem a concentração de CO2 atmosférico abaixo de 350 ppm.


Cliquem www.erantis.com e www.globeinternational.org para mais informações sobre o evento.


E cliquem aqui para descarregar o artigo do Prof. Veron e respectiva equipa.


Mas os cenários catastróficos, hoje, não se ficam por aqui...


Ora cliquem em www.physorg.com para lerem uma verdadeira pérola... Os pescadores Innuit, da Gronelândia, queixam-se da abundância excessiva de Tubarões da Gronelândia (Somniosus microcephalus) e propõem-se a matá-los todos e, já agora, a convertê-los em biodiesel...


Ora aí está uma excelente ideia...


Está-me mesmo a ver que a eliminação do predador de topo de uma cadeia alimentar não terá qualquer efeito sobre a mesma... O mais curioso na história é que a eliminação é conduzida pela espécie que depende financeiramente da cadeia que se propõe perturbar... Alguém me explique, por favor, o que me está a escapar neste raciocínio porque, sinceramente, tenho dificuldade em engolir que alguém seja imbecil a este ponto...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

District 9 e o despedimento da Manuela Moura Guedes

O que é que o filme "District 9" e o despedimento da Manuela Moura Guedes têm em comum?

Nada.

Mas o facto de vir aqui deixar um comentário rápido sobre o primeiro recordou-me um outro comentário rápido que me tinha esquecido de fazer acerca do segundo.

Acerca do "District 9": há muito tempo que não via um filme que me satisfizesse tanto! História, actores, realização, localização, etc., etc. Foi tudo bom. Acerca deste filme soberbo só me resta acrescentar que é o filme mais humano que já alguma vez vi, no sentido realmente literal e frequentemente perturbador da palavra.

E quanto ao despedimento da Manuela Moura Guedes posso dizer que não entendo, nem me interessam, os meandros dos processos que levam a este tipo de decisão. Mas posso avançar o seguinte: talvez, agora, a Manuela Moura Guedes entenda que, num programa de notícias, a vedeta deve ser a notícia e não a entrevistadora.

sábado, 8 de agosto de 2009

O sigilo bancário

Como já se vem tornando hábito, comecemos este post com o tradicional comentário cinéfilo. Segue-se a lista dos filmes mais recentes que caem na categoria absolutamente imperdível:

  • Two lovers
  • Brüno
  • Star Trek (2009)
  • Knowing
  • This is England

Posto isto, que dizer, então, relativamente ao sigilo bancário, de que tanto se falava há algumas semanas?


Caros amigos, o sigilo bancário é um não assunto. Pelo simples facto de que não existe, nunca existiu e nunca vai existir.


Aqueles que me conhecem sabem que não sou dado a teorias de conspiração nem dramatismos exagerados, pelo que volto a repetir: a discussão sobre o sigilo bancário é um monumental exercício de cosmética, já que a Banca (para usar o termo oficial) faz o que quer com os nossos dados e informações. Ao cidadão comum resta prestar atenção ao que se passa e agir quando detectar algo invulgar.


Permitam-me que elucide estes pontos com três casos reais que sucederam comigo recentemente.


Caso 1) Adesão ao Cartão de Crédito Citibank


Há alguns anos fui abordado pelos rapazes do Citibank, que me ofereciam a possibilidade de ter um dos seus cartões de crédito. Sendo a anuidade nula pensei Porque não? Afinal, viajo bastante e nunca se sabe se o cartão que uso regularmente vai ficar preso numa máquina ou desmagnetizado.


Preenchi a proposta e tive o cuidado de deixar em branco todo o bloco respeitante a pagamentos por débito directo na conta. Repito: deixei em branco os campos relativos à autorização do débito directo na conta. Não forneci o meu NIB, não coloquei uma cruz a dizer Sim, autorizo-vos a mexerem na minha conta sempre que vos apetecer, nem sequer assinei essa parte.


Ponto.


Algumas semanas depois recebi o meu cartão Citibank e respectivo código. Óptimo.


Alguns dias depois recebi uma nova carta do Citibank que começava com a frase Estimado Sr. João Correia, temos o grato prazer de informar que o débito directo da sua conta com o NIB nº XXXXX foi activado. ??? pensei, enquanto pegava no telefone e ligava para o número de apoio que vinha no rodapé. What the fuck?? perguntei-lhes, de forma um pouco mais educada e convertendo devidamente a expressão para a nossa língua mãe… A voz do outro lado não ofereceu, obviamente, qualquer explicação para o facto de que acabara de receber uma notificação de autorização para algo que eu não autorizei. Mas a voz despendeu bastante tempo a tentar demonstrar-me que o pagamento por débito directo na conta é, de longe, a forma mais cómoda de proceder a pagamentos. Respondi Meu caro, eu não vou discutir com uma voz, que não conheço, como faço a gestão dos meus rendimentos, ok? Cancele o débito directo da minha conta ou cancele o meu cartão.


Depois de mais algumas tentativas a voz percebeu que eu ia mesmo cancelar o cartão e lá me explicou que não lhe era possível cancelar o débito directo na conta. Contudo, explicou-me como qualquer um de nós pode fazê-lo:

  • Basta ir a uma caixa Multibanco
  • Inserir o cartão
  • Escolher Outras operações
  • Escolher Débitos directos
  • Escolher a empresa cujo débito directo pretende cancelar
  • Escolher cancelar

Et voilà. É muito fácil.


E foi exactamente isto que fiz, segundos depois de desligar, através do meu online banking. O passo final da história passou-se no balcão bancário que uso regularmente. Coloquei a carta do Citibank em cima da mesa e perguntei O que é isto? Responderam-me É uma autorização de débito automático da sua conta neste banco. Ao que eu respondi Então explique-me, por favor, a razão de ser desta carta tendo em conta que eu nunca dei autorização a esta empresa para me debitarem a conta. É claro que não me conseguiram explicar e só ouvi uns meros Pois… Sabe que isto, hoje em dia, é tudo automático... Já nem passa por nós..., etc.


Caso 2) Adesão ao Cartão de Crédito Barclaycard


A segunda história até seria divertida, se não fosse uma corroboração gritante do estado Big Brotheresco em que vivemos hoje em dia…


A segunda história pode ser resumida como segue: voltem a ler a história anterior mas coloquem-na dois anos mais tarde no tempo e substituam Citibank por Barclaycard.


É só.


Reparem bem:


  • Não assinei a autorização de débito em nenhum dos dois casos
  • Ambas as empresas conseguiram que o meu banco as autorizasse a tirarem-me dinheiro da conta
  • Em ambos os casos tive a sorte de não mandar para o lixo as cartas que comunicavam as autorizações dos débitos automáticos
  • Em ambos os casos cancelei os ditos
  • Em ambos os casos os funcionários do meu balcão ficaram a olhar para mim, quando os confrontei com a situação, com aquela cara de Desculpe lá… Isto, hoje em dia, é mesmo assim...

Caso 3) O erro de sistema do Barclaycard


Este terceiro caso nem sequer lida directamente com sigilo bancário, embora ateste muitíssimo bem o mind set destas empresas. Hoje em dia ainda tenho o cartão Citibank, embora o use muito raramente. Cancelei o Barclaycard, contudo, há alguns meses. E passo a explicar porquê: todos os meses aparecia um débito de 30 cêntimos. Reparem que não usava o cartão, pelo que este débito era muito óbvio, por ser a única linha no campo da discriminação dos movimentos. Nem sequer tinha data valor ou uma descrição. Apenas indicava um débito de 30 cêntimos. Liguei, com algum embaraço, para o Barclaycard e perguntei Que débito de 30 cêntimos é este que me aparece todos os meses? É um erro de sistema, pode ignorar. foi a resposta que me deram. E, de facto, ignorei. Nunca paguei os 30 cêntimos e habituei-me a vê-los no extracto.


Eventualmente acordei para o facto de que o único motivo porque o débito de 30 cêntimos era tão óbvio para mim era o simples facto de ser o único no extracto. Se tivesse um extracto normal, ou seja, com algumas dezenas de linhas de movimentos, é natural que o débito dos 30 cêntimos passasse completamente despercebido e fosse pago. Imaginem, agora, os milhares de pessoas que recebem extractos em casa e os pagam. Imaginem os milhares de 30 cêntimos que os utilizadores do cartão pagam ao Barclaycard mensalmente.


E tudo graças a um Erro de sistema que, teimosamente, não foi eliminado durante os 12~14 meses em que tive o cartão desta empresa, que já devolvi e cancelei.


Erro de sistema.


Yeah, right…

quarta-feira, 4 de março de 2009

Shark Attack

Ora aqui vai uma cartinha que remeti aos rapazes da Maxmen, na sequência do artigo Shark Attack, publicado na edição de Janeiro 2009. Valham-nos as fotografias da lindíssima Sofia Arruda, que sempre ajudam a lavar os olhos (e a alma) depois da leitura de páginas tão tristemente simples...

* * *

Estimados senhores,


Chamo-me João Correia e trabalho com tubarões (dentro e fora do nosso País) desde 1994.

A minha actividade tem sido desenvolvida no Jardim Zoológico de Lisboa (como tratador de tubarões em 1995); no Oceanário de Lisboa (como curador da colecção de 1997 a 2006 e como consultor desde essa altura); na Escola Superior de Tecnologia do Mar (como docente de várias disciplinas na Lic. em Biologia Marinha e Mest. em Estudos Integrados Oceânicos); e na empresa Flying Sharks (como sócio-gerente e fundador desde 2006).

Paralelamente, fui um dos fundadores da Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação de Elasmobrânquios (www.apece.pt) em 1997; desenvolvi o meu trabalho de campo de Lic. e Mest. na Ilha Bimini (Bahamas) em 1994 e 95; desenvolvi o meu doutoramento (a ser defendido na Univ. de Aveiro em Maio e que já ganhou o Prémio do mar Rei D. Carlos em 2006) na pesca comercial de tubarões e raias em Portugal; tenho largas dezenas de publicações científicas e apresentações em congressos nesta área; e viajo frequentemente para Bruxelas para reuniões de trabalho que visam ‘lobbying’ por melhor legislação que proteja os tubarões e raias nos mares, em colaboração com organizações como a Shark Alliance (www.sharkalliance.org).

Finalizada esta introdução, que, espero, ateste que tenho alguma legitimidade para falar sobre este tema, confesso-me estupefacto com o vosso artigo ‘Shark Attack’ (edição Jan. 09), que me foi encaminhado por um aluno recentemente.

Não vou ‘corrigir’ os diversos disparates escritos pelo autor, Ron Laytner, porque tal tratar-se-ia de um exercício tão fútil como o de explicar a um arrumador de carros a importância de se ganhar a vida de uma forma honesta e legítima; ou como explicar, às pessoas que reclamam das pipocas no cinema, que há salas com pipocas e há salas sem pipocas. Há coisas que simplesmente não valem a pena.

Dirijo-me a vós, directamente, com um pedido: DOCUMENTEM-SE devidamente antes de imprimirem artigos escritos por pessoas que vivem com 30 anos de atraso em relação ao resto do mundo.

Quando li o vosso artigo simplesmente não conseguia acreditar que estava a ler algo publicado em 2009. O discurso, o grafismo, a tónica sensacionalista e o entusiasmo frenético por SANGUE deixaram de estar na moda há várias dezenas de anos, mas dir-se-ia que o vosso editor desconhece esse facto.

As publicações modernas exaltam a importância da conservação dos recursos marinhos e dão ênfase ao papel desempenhado por todos os elementos de um ecossistema. É um facto que os tubarões e raias fazem parte do ambiente marinho, e não só, e ocupam predominantemente o papel de predador de topo. Também é um facto que, ocasionalmente, seres humanos são mordidos/magoados por tubarões. Mas também o são por cães, leões, tigres, ursos, crocodilos, serpentes, hipopótamos, medusas e variadíssimas outras espécies. Estes ‘encontros imediatos’ são ocasiões, sem dúvida, infelizes. E, contudo, menos frequentes, a nível MUNDIAL, do que o número de acidentes rodoviários no IC19 em cada semana.

Compreendam que o discurso ‘os tubarões gostam de carne humana’ é, para além de FALSO, motivo de alegre chacota por parte de todas as pessoas que têm um entendimento rudimentar sobre o meio marinho. Asseguro-vos que este tipo de artigo serve de base a conversas, em tom trocista e cínico, sobre a incapacidade frequente da imprensa em se documentar devidamente sobre os temas publicados.

Repito o meu conselho: DOCUMENTEM-SE devidamente sobre os temas que publicam, de forma a evitarem o embaraço de serem alvo de risos e comentários trocistas. Nessa linha, deverão buscar fontes alternativas, e FIDEDIGNAS, de informação. Este artigo, baseado quase exclusivamente nas palavras tendenciosas do Sr. Vic Hislop, um fervoroso defensor da política ‘o único tubarão bom é um tubarão morto’, peca de uma forma assustadora pela completa e total ausência de uma perspectiva alternativa à visão sanguinária deste cavalheiro.

Honestamente, esperava mais de uma publicação como a vossa. :-(

Cumprimentos sinceros,

João Correia

domingo, 18 de janeiro de 2009

A Onda, o Logótipo e o Impacte


I - A Onda


Correndo o risco de este blog estar, lentamente, a transformar-se num fórum de crítica de cinema, devo aconselhar todos a irem ver A Onda (Die Welle), filme alemão de Dennis Gansel.


Um filme simplesmente imperdível, baseado em factos reais que ocorreram na California em 1967. Podem clicar em thewave.tk para saber mais detalhes.


II - O Logótipo


No filme falou-se em logotipos e não resisto a perguntar: alguém me explica porque diabo se começou a escrever logótipo nos últimos anos?? Até o diabo do spell-checker do MS Word me sublinha logotipo como errado e me corrige a palavra automaticamente para logótipo.


Meus amigos, eu não sou linguista, mas parece-me que se trata de um erro grosseiro e perpetuado por mentes pouco articuladas...


Vejamos, a palavra logotipo tem duas partes: logo + tipo. Do grego palavra e símbolo, mais coisa menos coisa. Neste tipo de palavras, o acento nunca vem na primeira metade da mesma. Exemplos: Geografia, Filosofia, Fotografia.


Não esqueçamos, contudo, que o Geógrafo é o gajo que trabalha em Geografia; o Filósofo é o gajo que trabalha em Filosofia; o Fotógrafo é o gajo que trabalha em Fotografia.


Assim sendo, parece-me que o Logótipo é o gajo que trabalha com Logotipos.


E chamar Logótipo ao objecto do seu trabalho faz tanto sentido como chamar Geógrafia, ou Filósofia, ou Fotógrafia aos objectos de trabalho dos rapazes referidos anteriormente…


Agora a sério: alguém me explica de uma forma substanciada de onde diabo vem este Logótipo insidioso??


III - O Impacte


O Impacte faz-me lembrar o Controle... Ambos são invenções de quem não estava contente com os tradicionais Impacto e Controlo. Há alguns anos, durante aulas de mestrado em que se falava de questões ambientais, explicaram-me que se usava o termo impacte quando se abordam matérias de natureza ambiental, para se distinguir este impacto do impacto não ambiental.


Mas, meus amigos, um impacto é um impacto, seja ele ambiental ou mecânico. Da mesma forma que uma bofetada é sempre uma bofetada, seja ela de luva branca ou daquelas que deixam cinco dedos temporariamente tatuados numa face. Ou vamos criar a palavra bofetade para distinguir as bofetadas que doem no ego daquelas que doem na cara?


Para os teimosos defensores do conceito impacte deixo o seguinte exercício:


Que palavra usariam para descrever o choque de um camião de resíduos tóxicos contra uma árvore protegida?


Abraços e beijocas,


João