Pois é… Depois de Cães Perigosos só podia continuar com algo tão controverso, e que move tantas paixões, como as Touradas.
Mas o Fenómeno Tourada tem de ser abordado com cautela. Mais que não seja, pelo número de pessoas envolvidas que, comparativamente ao tema Cães Perigosos, é substancialmente superior.
Este post foi escrito para as pessoas que gostam e defendem com paixão as touradas. Mais importante ainda, este post dirige-se a todos aqueles que acusam quem quer acabar com as touradas, como eu, de estar a ser hipócrita, inculto, ignorante e outros nomes simpáticos que circulam pela net e jornais.
Este post não tem imagens, porque não me parece correcto vender a minha filosofia à custa de fotografias de Touros ensanguentados. Mas quem tiver um desejo mórbido de ilustrar estas linhas poderá clicar aqui (e em outros sites semelhantes) para satisfazer a sua curiosidade.
Pois devo confessar que não gosto de Touradas e consigo resumir toda a minha argumentação a uma única palavra: entretenimento.
Porque é isso mesmo que as Touradas são, entretenimento. E só por este motivo me parece que todos os argumentos pró-tourada são abalados profundamente; porque todos esses argumentos são apresentados em defesa de algo que não é essencial para a nossa sobrevivência, que é supérfluo e que é um passatempo.
Mas permitam-me que tenha a audácia de expandir este tema e que tente desmontar os tradicionais argumentos pró-tourada um a um. Estes argumentos estão listados em baixo (e desde já vos peço que m’o(s) recordem, se me esquecer de algum):
- As touradas são uma forma de vida para milhares de pessoas, que se veriam desprovidas de sustento se esta prática terminar.
- As touradas são a única razão porque o Touro Bravo ainda existe. Se as touradas acabarem, esta raça de animal também acabará.
- A tourada é um fenómeno profundamente enraizado na cultura Ibérica. Acabar com as touradas é eliminar um pedaço da nossa cultura.
- E, finalmente, dizem as pessoas pró-tourada que os defensores dos direitos dos animais deviam era preocupar-se com as condições em que vacas, bois, frangos, borregos, cordeiros e afins são criados para nos alimentarem, não esquecendo que os Touros Bravos têm uma vida privilegiada, em campo aberto, durante os 3~4 anos que antecedem a sua introdução à arena. Ou seja, na mente dos que advocam este argumento só devíamos acabar com as touradas depois de se acabar com o sofrimento destes outros animais, já que o destes últimos é prioritário.
Antes de começar a desmontar os argumentos anteriores, um a um, deixem-me repetir o meu único argumento contra as touradas:
- As touradas são uma forma de entretenimento à base de crueldade para com animais, nomeadamente Touros e Cavalos. Sim, não esqueçamos as pauladas que os Cavalos levam dentro e fora da arena, porque a nobre arte equestre de lida de um Touro não se consegue sem umas valentes esporas cravadas nos flancos.
Pois bem, vamos ao primeiro argumento, i.e. as touradas são uma forma de vida para milhares de pessoas, que se veriam desprovidas de sustento se estas acabarem.
Possivelmente não estarão 100% familiarizados com o meio mas deixem-me dizer-vos que as pessoas envolvidas no meio tauromáquico são, na sua maioria, empresários. E bem sucedidos. E, como tal, têm várias fontes de rendimento, sendo as touradas apenas uma delas. Recordemos que as touradas são um espectáculo de Verão e certamente que os toureiros, ganadeiros e empresários associados terão outras formas de sustento durante o Inverno. Duvido seriamente que passem os meses frios em casa, à lareira, a gozarem os rendimentos recolhidos nas touradas de Verão.
Do que tenho observado (e vivi a minha infância no Cartaxo, em pleno Ribatejo, de 1972 a 1989), as pessoas que têm Touros, Cavalos e que gostam de ir a touradas têm, também, campos cultivados com cereais, gado que criam e vendem (para alimentação), Cavalos que levam a exposições e a provas de competição, e variadíssimas outras actividades de natureza campestre e agrícola. Os rendimentos auferidos como consequência directa das touradas são, parece-me, minoritários nos rendimentos globais deste grupo. Mas aceito que possa não estar 100% correcto neste pressuposto. E é por esse motivo que darei continuidade a este raciocínio...
...Porque entendo que, por si só, este argumento não é suficiente para justificar a continuidade de uma actividade. Deixem-me recordar-vos que a Pesca é, actualmente, uma prática economicamente falida, que sobrevive à conta de subsídios governamentais. Se calhar não sabiam, mas, anualmente, e globalmente, os custos da Pesca (combustíveis, vencimentos, equipamentos, reparações, seguros, etc., etc.) são superiores às receitas. Mas variados Governos, incluindo o Português, têm tentado colmatar a falta de peixes no mar (que se deve essencialmente à sobre-pesca a que estiveram sujeitos durante décadas de exploração não sustentável) de formas criativas, com as quais concordo genericamente. Porquê? Porque precisamos da pesca e precisamos que nos metam peixe na boca. Porque somos quase 7.000 milhões de bocas e precisamos de comer várias vezes por dia (se tivermos sorte).
Mas dizia eu que o Governo Português (e praticamente todos os Governos de Países em que se pesca a sério) subsidia e suporta a pesca de várias formas, algumas das quais bastante interessantes. Estou a lembrar-me do programa FORPESCAS, cujo objectivo é direccionar os filhos de pescadores para outras áreas do domínio marítimo que não envolvem a colheita de peixes do mar. É natural que os filhos de pescadores sigam as pisadas dos pais. Foi assim durante séculos. Mas, hoje em dia, isso já não pode acontecer. Porque os pais de hoje já praticamente não conseguem pagar as suas contas com os peixes que recolhem do mar. E certamente que os filhos de amanhã também não o conseguirão. E é por isso que têm de ser instruídos em artes como a aquacultura, manutenção de espécies em aquários públicos, biologia marinha, oceanografia, hidrografia, etc. Estas pessoas têm uma forte ligação ao mar e parece-me uma óptima ideia instruí-los em profissões de natureza marítima e com zero impacto nos recursos vivos marinhos. Há que rentabilizar a pesca e os recursos humanos que a ela estão associados.
Se isto se fez com a pesca, porque não fazê-lo com as touradas?
Se o Governo anunciasse, hoje, que as touradas seriam extintas daqui a cinco (ou dez) anos, será assim tão inconcebível assumir que as pessoas actualmente envolvidas no meio tauromáquico conseguiriam assegurar meios de subsistência alternativos num prazo de cinco ou dez anos?
Vamos ao segundo argumento, i.e., as touradas são a única razão porque o Touro Bravo ainda existe. Se as touradas acabarem, esta raça de animal também acabará.
Acredito sinceramente que nada poderia estar mais longe da verdade.
O Touro Bravo é um animal imponente, soberbo e impressionante. Não acredito que os actuais ganadeiros, que se dedicam à criação desta raça de animais nobres, deixem as suas manadas acabarem.
Então e as exposições? Os concursos? As feiras? Os prémios de Melhor Touro do Ano? Os negócios entre criadores, que estão sempre a disputar e a negociar o melhor macho e a melhor fêmea? E porque não subsídios governamentais (na forma de incentivos fiscais, descontos no gasóleo, mais deduções no I.R.C., etc., etc.) para os criadores desta raça?
E, já que estamos a falar de raças em perigo, porque não a mesma estratégia para os famosos Burros , que estão em risco de desaparecer? Refiro-me aos quadrúpedes, claro. Porque, os bípedes, estão a proliferar de uma forma descontrolada...
O Governo gasta milhões de Euros em subsídios para a Agricultura, Pescas e outras actividades, e com toda a legitimidade, deve-se acrescentar. Porque não canalizar parte desses valores para os criadores destas raças?
Como cidadão pagador de impostos declaro já aqui, publicamente, que não me importo que me debitem uma pequena fatia do ordenado para subsidiar os senhores que correm risco de morrer à fome se lhes tirarem a oportunidade de espetar ferros em Touros. Mas, ah, esperem... já me tiram essa fatia de ordenado, não tiram? E a ela chamamos impostos, correcto? Então só me resta desejar que esses impostos sejam aplicados de uma forma sensata.
Vamos ao terceiro argumento, i.e. a tourada é um fenómeno profundamente enraizado na cultura Ibérica.
É verdade que a tourada é um fenómeno culturalmente significativo em Portugal, Espanha e outros países latinos.
Mas sabem como começaram as touradas em Portugal e Espanha? Durante a ocupação Romana, há 2.000 e tal anos, os nobres passavam algum do seu tempo de ócio em coliseus improvisados, nos quais pessoas sem instrução, escravos, cristãos (quando deixaram de ser um fenómeno marginal e passaram a ser um incómodo), prisioneiros de guerra, pessoas com deformidades, opositores políticos e toda a espécie de indesejáveis eram degolados, devorados e desmembrados por animais selvagens e / ou outros seres humanos munidos de elmos, redes, mocas, lanças e demais parafernália afiada e pesada.
Esse espectáculo era aceite pela sociedade, que aplaudia entusiasticamente quando, por exemplo, um urso arrancava a cabeça de uma criança com feições diferentes (que era o caso dos espécimes recolhidos em expedições ao Extremo Oriente, para demonstrar aos conterrâneos as bizarrias que abundavam em terras distantes).
Esse espectáculo foi aceite até algumas vozes começarem a fazer-se ouvir e a resmungar contra estas práticas. Certamente que essas vozes foram apelidadas de chatas e incómodas na altura. Porventura algumas até terão sido caladas com lâminas aguçadas, manejadas por mãos que tinham muito a perder se o comércio de gladiadores e escravos fosse proibido.
Mas, a dada altura, alguém, numa posição de governo, decidiu que estava na hora de parar aquele espectáculo sangrento.
E parou.
Ou não?
Esse espectáculo incluía, na Península Ibérica, actuações fortemente aplaudidas por parte de Touros Bravos, animais potentes, abundantes nestas paragens, e que traziam muita animação à festa. Dir-se-ia, por isso, que esta paragem do fenómeno foi aceite em todo o lado menos na Península Ibérica. É quase como se tivéssemos dito Agora que os chatos dos Romanos se foram embora, podemos continuar a fazer estas macaquices com Touros sem ninguém nos chatear.
2.000 anos depois, o espectáculo continua e dir-se-ia que ninguém tem coragem para o travar.
E, por fim, o quarto argumento, i.e. dizem as pessoas pró-tourada que os defensores dos direitos dos animais deviam era preocupar-se com as condições em que vacas, bois, frangos e afins são criados para nos alimentarem, não esquecendo que os Touros Bravos têm uma vida privilegiada, em campo aberto, durante os 3~4 anos que antecedem a sua introdução à arena.
Bom, como biólogo marinho e, mais importante ainda, como ser humano, fico perfeitamente chocado com as condições atrozes em que muitos animais são criados.
Mas não esqueçamos um ponto crítico nesta análise:
Estamos a falar de comida. Sim, há animais que são criados em condições deploráveis e contra as quais temos Legislação abundante que, infelizmente, nem sempre é aplicada. Mas esses animais são nossas presas. E nós somos os seus predadores. E não esqueçamos que vivemos num Planeta que está a chegar aos sete mil milhões de predadores. E que, há umas três décadas, eram 4.000 milhões. E há 150 anos nem a 1.000 milhões chegávamos. (se tiverem curiosidade por estas estatísticas recomendo uma visita a www.ibiblio.org/lunarbin/worldpop)
Ou seja, se queremos sobreviver, temos mesmo de produzir comida em massa, por mais difícil que isso nos seja de engolir (se me permitirem a redundância da expressão).
Temos de juntar animais em armazéns, temos de enchê-los de hormonas (para que cresçam depressa) e temos de garantir que esta comida se multiplica e vem parar aos nossos carrinhos de compras, sob pena de passarmos os dias com fome.
Ou julgam que há espaço neste planeta para só termos animais em regime free range?
Ou julgam que toda a população do planeta tem carteira para comprar comida se esta só fosse produzida em regime orgânico e 100% natural?
É que é muito fácil apregoar Salvem os direitos dos animais quando se tem um emprego das 9 às 6, quando se tem tempo para estar na Internet a dar opiniões sobre o que desconhecidos escreveram em Blogs, quando se ganha 1.000+ euros por mês e se vai às compras a charcutarias com Delicatessen caras.
Mas digam isso às pessoas que trabalham 14 horas por dia, que ganham 500 euros por mês, que têm várias bocas para alimentar em casa e que nunca viram um Blog na vida. Digam-lhes para só comprarem verduras que cresceram sem químicos. Digam-lhes para comprarem ovos de galinhas que nunca viram uma capoeira. Digam-lhes para comprarem carne de vacas que se rebolam na erva fresca e húmida do orvalho matinal.
Newsflash para quem ainda não percebeu a verdadeira crise que assola os nossos tempos: se o planeta inteiro vivesse como nós (i.e. Ocidentalizados) vivemos, precisaríamos de três planetas para sustentar o nosso estilo de vida. Isto é um facto mais que provado e posso disponibilizar-vos muita literatura científica sobre o tema.
Só que não temos três planetas.
Só temos um.
E, neste único planeta que temos, não há espaço para fazermos crescer comida para 7.000 milhões de almas (que, dentro de poucos anos, serão dez mil milhões) em regime orgânico e 100% natural.
Não há.
E é preciso que metam isso na cabeça.
O nosso planeta atravessa a maior crise que jamais atravessou. Estamos a lutar pela nossa sobrevivência e as pessoas nem se apercebem disso.
Mas já me estou a dispersar... Num outro post tentarei educar-vos acerca destes aspectos... Até lá, podem ir estudando a matéria em An Inconvenient Truth. Ignorem o facto de que é um filme em torno de um Americano com aspirações políticas e concentrem-se no ponto verdadeiramente fulcral do website: o aquecimento global e o fim da vida humana no planeta Terra.
Voltemos aos Touros, à nossa necessidade de comermos diariamente e à não-necessidade de torturarmos animais para gáudio de uma plateia.
Reparem: devíamos tratar os animais de que nos alimentamos de uma forma eticamente correcta e digna? Obviamente que sim. E tratamos os animais de uma forma eticamente correcta e digna? Tristemente, não.
Mas não vamos deixar que esse facto triste sirva de máscara para as touradas, que são entretenimento, ok? Não vamos misturar os conceitos sobrevivência da nossa espécie com entretenimento, ok?
É claro que podemos despender tempo no diálogo sobre a legitimidade que temos, como espécie, em sacrificar outras para a sobrevivência da nossa. Mas isso é um diálogo longo e ainda mais controverso, que terá de ficar para outro post.
E não esqueçamos estes dois pontos charneira:
- Até a morte dos animais dos quais nos alimentamos é feita de uma forma rápida e, supostamente, indolor. Já sabemos que os matadouros nem sempre obedecem a todas as regras de higiene e também já sabemos que o transporte de animais nem sempre é feito com as condições exigidas pela Lei. Mas, pelo menos, a morte do animal é rápida.
- Nas touradas a morte é lenta. Aliás, que palavra se utiliza regularmente quando a morte é atrasada em prol da oportunidade de infligir dor? Eu julgo que a palavra é tortura, certo? Que outra palavra se dá ao fenómeno segundo o qual causamos dor a um animal (não esqueçamos que nós, seres humanos, também o somos) sabendo perfeitamente que o mesmo está condenado à morte? E, depois, vêm dizer-me que os Touros Bravos são criados com condições extraordinárias?? Para quê?? Para serem torturados antes de morrerem??
É precisamente por isto que o meu Blog se chama Sem areia nos olhos. Então ninguém se apercebe de quão pérfido é o conceito de criar para torturar?
Dizem-me que as touradas não devem acabar porque os Touros também acabariam. E depois? É melhor criar Touros para os podermos torturar?
Qual é, exactamente, a diferença entre isso e criar (ou capturar) Macacos para, depois, lhes comermos o cérebro enquanto ainda estão vivos? Toda a gente se arrepiou quando leu isto, certo? Pois, mas é o que se faz no Extremo Oriente. Mas não é só no Extremo Oriente que se criam (ou capturam) animais para os torturarmos; em Barrancos faz-se o mesmo. No Ribatejo também. E em muitos outros sítios do nosso País. E de Espanha. E da Argentina. E de outros.
E é legal.
É ilegal comprar uma cadeirinha de bebé que não seja certificada.
Mas é legal torturar um Touro Bravo durante um espectáculo.
E é legal cobrar bilhetes para as pessoas irem ver esse espectáculo.
É ilegal sair à rua com a Anouk sem açaime.
Mas é legal espetar ferros no lombo de um Touro Bravo e ser pago para isso.
Mas serei só eu que consegue ver quão retorcido tem de ser o raciocínio que defende uma tourada??
E permitam-me que ainda agite mais o caldeirão com este conceito:
Sabiam que a maior parte dos psicopatas torturaram animais quando eram crianças?
Tirar prazer da tortura de um animal é um sintoma clínico de algum tipo de perturbação. Será que Portugal é, então, colectivamente uma Nação de pessoas perturbadas? A Lei que permite as touradas assim o sugere, o que não deixa de ser assustador.
Fomos das primeiras nações do Mundo a abolir a Pena de Morte.
Será que vamos ser a última a abolir os Touros de Morte?
Porque, espero que tenham consciência disso, os Touros de Morte não são só em Barrancos. São em todas as localidades onde se faz uma tourada. Em Barrancos o Touro é morto à frente de todos. Nas localidades restantes o Touro é morto num matadouro depois do espectáculo para o qual se preparou a vida inteira. A tal vida de luxo que os ganadeiros magnanimamente lhe proporcionaram.
Mas regressemos ao tema central, i.e. dizem as pessoas pró-tourada que os defensores dos direitos dos animais deviam era preocupar-se com as condições em que vacas, bois, frangos e afins são criados para nos alimentarem, não esquecendo que os Touros Bravos têm uma vida privilegiada, em campo aberto, durante os 3~4 anos que antecedem a sua introdução à arena.
Aceito, com dificuldade, que Porcos Pretos sejam transportados em agonia infernal para que possamos apreciar um prato de secretos. Não me agrada, mas aceito.
E aceito o anterior da mesma forma que aceito que um Impala seja desfeito em bocados por Leoas. As Leoas, como sabem, não são particularmente delicadas quando começam a retirar nacos da sua presa, ainda viva. Perguntem a uma Zebra, se conseguirem que ela vos dê atenção enquanto um conjunto de Hienas lhe come as vísceras ainda quentes.
E nós, humanos, fingimos que somos delicados na forma como lidamos com as nossas presas e temos livros repletos de legislação que nos obriga a não stressar os animais, a tratá-los com dignidade, etc. Mas, sejamos pragmáticos, não o fazemos. Somos predadores e chacinamos as nossas presas. Custa admitir, mas é o que é. E aceito isso.
Mas não aceito as touradas. Porque as touradas são algo de muito diferente deste comportamento predador-presa.
Não aceito que touros sejam cravados com ferros para que o público aplauda as mãos que espetam os ferros.
Também não aceito que cavalos sofram ferimentos (frequentemente mortais, embora nem sempre isto seja imediato) enquanto o público aplaude ferozmente sempre que um touro consegue manobrar mais rapidamente que o equino.
Também não aceito que um animal seja criado unicamente para que possamos aplaudir a sua morte. Teria mais consideração por uma tourada se, no final, o animal fosse morto e comido por todos os presentes.
Curiosamente, quase que aceito a pega (não confundir com pêga, que é algo de bastante diferente...) porque, caraças, é preciso tê-los no sítio para estar de pé, sem qualquer tipo de arma, frente a uma besta de 600 Kg, lixada da vida, que carrega sobre nós.
É, de facto, um exemplo dramático da milenar luta do Homem contra o Animal, na sua forma (quase) mais pura. Mas será essa luta assim tão igual e estóica?
Não esqueçamos que, antes da pega, vários toureiros lidaram o animal e, essencialmente, cansaram-no ao ponto de ele pouco mais conseguir fazer do que elevar, quem o pega, pelos ares. Não sou entendido nesta espécie, mas duvido seriamente que um Touro Bravo de 600 Kg, e 100% rijo de saúde, consiga ser travado à unha por um punhado de homens.
Sim, a pega parece uma luta igual, mas não esqueçamos que o Touro leva meia-dúzia de ferros espetados no lombo. É por esse motivo, inclusivamente, que lhe escorre sangue pelo pêlo negro abaixo.
Ora, não é preciso ser um perito para constatar que 20~30 minutos de correria, e umas farpas espetadas no lombo, constituem um handicap deveras substancial.
Aliás, recordo-vos a célebre cena do Gladiador em que o viperino imperador [Joaquin Phoenix], minutos antes de defrontar o Gladiador [Russel Crowe] na arena, lhe espeta uma valente lâmina no lombo, para equilibrar a luta.
No filme, apesar do ferimento, o Gladiador conseguir matar o Imperador, antes de sucumbir mortalmente. E, depois, saiu numa padiola transportada nos ombros de legionários, sob fortes aplausos do público, que tinha apreciado a sua valentia e triunfo em condições adversas.
Numa tourada o toureiro, que lutou com um animal ferido e ensanguentado, sai 99% (?) das vezes pelo seu pé, sob intensos aplausos e com ramos de flores nos braços. O Touro abandona o recinto sob o engano de uma manada de cabrestos... Na sua cabeça imagina, possivelmente, uma viagem de volta para o prado verdejante onde foi tratado como um Lord durante 3~4 anos. Mas, no cruzamento rodoviário, observa intrigado a curva inesperada que a camioneta fez para outra direcção... para o matadouro sujo onde um tipo de galochas e bata salpicada de sangue, lhe vai dar um choque eléctrico na cabeça.
O Touro Bravo, que corria sem restrições num prado sem fim, na véspera jaz, agora, morto e é arrastado para ser incinerado. Já não é um Touro Bravo. É categorizado oficialmente como lixo biológico e, como tal, manda a Lei que seja incinerado. E assim será, se a Autarquia local tiver dinheiro para pagar o transporte e a incineração, que não são baratos com animais deste porte. Se a Autarquia estiver com o orçamento rebentado o Touro acaba os dias no aterro sanitário da povoação.
É isto que os defensores das touradas tanto defendem?
E chamam-me, às vezes, de defensor dos animais num tom pejorativo, como se eu tivesse uma doença?
Eu, defensor dos animais, como arroz de cabidela, carapaus fritos e borrego assado. Porque sou um Homo sapiens sapiens e o meu código genético manda-me comer proteína animal e vegetais. Sou omnívaro. Eu e todos vós, mesmo os que preferem não comer carne. É o que somos. Quer gostem, quer não.
...Mas raios me partam se ponho os pés numa tourada.
Enfim, termino com alguns pontos rápidos, em jeito de reflexão final:
- Compreendo que a Tourada seja um fenómeno com profundas raízes culturais; os Circos Romanos também o foram durante Séculos mas, a dada altura, considerou-se que estava na hora de os parar.
- Compreendo que muitas pessoas auferem um rendimento apreciável com as touradas; mas estou certo que não irão morrer à fome se as touradas forem paradas, particularmente se tiverem um aviso de vários anos e se o Governo os subsidiar durante alguns anos adicionais.
- Compreendo que se tema que o Touro Bravo desapareça se a tourada desaparecer. Duvido seriamente que isso suceda. Já olharam bem para um Touro Bravo? Que ganadeiro é que quer prescindir de criar um animal com um porte tão altivo e tão extraordinário? Haverá sempre espaço, na nossa sociedade, na Feira da Golegã e outros eventos que valorizam a nossa fauna agrícola, para apreciarmos estes animais surpreendentes e possantes.
- E compreendo que queiram salvar os pobres milhões de animais que comemos diariamente antes de gastarmos energias no salvamento do Touro Bravo. Mas, antes de salvarmos esses pobres milhões de animais, temos de Opção 1: eliminar dois terços da população do planeta ou Opção 2: mudar radicalmente o nosso estilo de vida. Porque, se não o fizermos, o salvamento dos animaizinhos que comemos é um mero exercício de cosmética.
Agora digam-me, por favor, quais são os vossos outros argumentos em defesa das touradas porque eu estou, de facto, curioso em ouvi-los.
João Correia
26 comentários:
PARABÉNS e com uma valente ovação! Não conseguiria descrever uma tourada tão bem como o fez!
Eu acho inacreditável é que além de haverem esses espectáculos sanguinários ainda os anunciam ao povinho como se (tal como foi referido) de uma luta romana com gladiadores se tratasse!
Não entendo! Mas é assim tão inconcebível um Portugal sem touradas? Sem arenas com sangue?
E que mania é essa de virem com a conversa de que eu como carne? Pois como! Mas sei que o touro que sai morto (ou meio-morto) das touradas não vai ser alimento! É o simples facto de ver o pobre animal a sofrer que os faz feliz?
Mas o que me enoja, e enoja profundamente, são as "tias" que vão às touradas e dizem que é ... lindo(?????). O que se pode confirmar: o pessoal que vai, que gosta, e que acha que as touradas devem continuar foi, é ou está prestes a ser um maníaco-depressivo com tendências homicidas...eu cá gostaria que fossem suicidas...acabava-se logo o mal pela raiz.
Era bom mudar mentalidades...mas é preciso lembrar sempre do caso das Pescas...porque por muito bons que sejam os projectos, a mente Humana é mesquinha e, no sentido literário da palavra, burra (tal como disse: são paletes!!!).
Quem sabe um dia isso aconteça. Gostava que esse dia estivesse próximo para, pelo menos, poder dizer aos meus filhos quando me perguntarem o que é uma arena: ah aquilo? é só um shopping, arenas é do tempo dos romanos.
Olá, Physalia,
Obrigado pelo teu comentário e palavras simpáticas.
Agora só temos é de divulgar esta mensagem o mais possível, para ver se começamos a converter os teimosos que ainda defendem esta prática...
Beijocas,
João
Não tem razão. Pura e simplesmente.
Eu defendo as touradas, porque solidariedade com o touro bravo... Ou melhor, para que o touro bravo nunca se transforme em boi e não porque goste de touradas ou as veja.
Infelizmente as touradas serão mais cedo ou mais tarde proibidas e, com elas, extinguir-se-á a raça dos touros bravos. Inevitavelmente.
Ninguém tem dinheiro para sustentar animais cuja sobrevivência custa uma fortuna.
Basta ver que só existem touros bravos nos países onde existem touradas.
O bom é inimigo do óptimo. E em nome do ideal costumamos sacrificar o humanamente possível... E depois só nos resta lamentar que as coisas, afinal, tivessem acabado por ficar muito pior do que o que estavam. De boas intenções está o inferno cheio.
Estou farto de pessoas que, em nome da promessa do Céu, nos transformam a vida num Inferno.
Um abraço de quem (quase de certeza) gosta muito mais de animais do que o senhor. Adoptei 13 cães abandonados e 2 gatos. Quantas águias, corujas ou mochos já salvou o senhor? Eu já salvei algumas.
Um abraço
Santana-Maia Leonardo
http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente/archive/2007/04/23/EM-DEFESA-DO-TOURO-BRAVO.aspx
Obrigada por tocares em tão desconfortável e embaraçosa pústula.
Tal como tu, interrogo-me sobre como é possível apreciar e tirar qualquer tipo de prazer da tortura de outro ser? Não é normal. Sinceramente, prefiro o desaparecimento dos touros bravos a saber que estes existem apenas para serem torturados. É, no mínimo, grotesco.
Mas acredito que aos poucos as coisas mudem. Há 2000 anos decerto houve romanos que, contra a corrente e a tradição, se opuseram aos seus circos; tal como houve quem se opusesse à escravatura e à pena de morte em Portugal, quando estas eram consideradas normais. As coisas mudam – até porque não conheço NINGUÉM da minha idade ou mais novo, que goste de touradas...
Parabéns por este post. Vou divulgar.
PS - Lembro que há países onde é desporto usar um pato vivo como instrumento de arremesso ou dar pauladas em galinhas vivas, como se de bolas se tratassem. Decerto que as mesmas "tiás" e os outros bacocos que aplaudem as touradas e de que a P. physalis fala, ficariam repugnadas, a gritar "qu'hórror" perante estes "desportos", apelidando-os de" bárbaros" e mais sei lá o quê - a não ser, claro, que os "atletas" envolvidos tivessem um nome chique e uma conta bancária ainda mais chique. Aí, o caso mudava logo de figura e ouvir-se-iam uns “Giríssimo!!! Tanto sangue salpicado por tudo o que é sítio! Ai! Caturreira! ”. Mas, espera, isso já acontece nas touradas...
Outra coisa, embora ainda sejam pontualmente utilizados como animais de trabalho, os burros há muito que caíram em desuso para as tarefas de carga e, por isso mesmo, chegaram a estar seriamente ameaçados de extinção. E quem os ajudou? Muitos particulares que realmente gostam de animais e as tais associações cheias de "boa vontade" e que supostamente nos "prometem o céu e nos fazem a vida um inferno "... E é curioso, não ouvi ninguém dizer proibam-se os tractores, os camiões e o progresso para que os burros não se extingam...
Mas quem é a pessoa com bom senso, que diz que em nome da defesa de uma espécie animal, esse animal tenha de ser torturado, porque parece ser a unica maneira de ele resistir á extinção.
Eu sou Ribatejano, moro a cerca de 200metros de uma praça de touros e enoja-me cada vez que passo lá.
Como diz o Professor e muito bem, a tourada não passa de tortura, não tem qualquer fim a não ser o puro entretenimento. Lá vem a tal coisa que já tinha falado, temos a mania que somos donos e senhores do universo, é preferivel haver menos exemplares do touro bravo (concordando com o Professor João que ele não deixará de existir), do que ligar a Televisão na TVI e ver a felicidade dos ignorantes (sem querer ofender, mas são) que espetam farpas em touros.
Por vezes, e infelizmente, dou um pouco de audiência a esse canal de tv enquanto dá tourada, desejoso que o cavaleiro caia do cavalo e finalmente seja confrontado com a mais pura das verdades (NÃO É MAIS PODEROSO QUE UM ANIMAL DAQUELE PORTE, é lixado mas é verdade, agora conta lá aos netinhos aquela vez que levaste uma bela duma cornada nos glúteos).
Muitas vezes comento enquanto assisto que gostava de ver como se sentiria o toureiro a levar com farpas no lombo, enquanto o touro cavalgava imponente de chapéu na mão (já tou a divagar).
Mas cada qual pensa á sua maneira, e é para isto que servem os blogs, para discutir ideias.
A minha ideia nunca me vão tirar, odeio touradas e todos os que façam parte desse circo.
As culturas e os ideais podem e devem ser alterados, se não progredissemos ainda hoje os africanos estavam escravizados, e não acredito que alguém concorde com isso, excepto os neo-nazis claro.
(com este comentário não quis ofender ninguém, mas peço desculpa se ofendi).
Parabéns professor por mais um magnifico post.
Bruno Ribeiro
Esqueci-me de comentar uma coisa que o senhor anónimo de cima disse, gosta muito mais de animais porque adoptou 13 cães abandonados e 2 gatos.
UMA SALVA DE PALMAS PARA ESTE SENHOR.
Já que gosta tanto de animais que tal adoptar uns quantos touros bravos e evitar as touradas.
Mas não um gatinho é mais fofinho, não dá cornadas.
E depois a tal conversa das águias e corujas, mas você não vê National Geographic?
Os animais marinhos não guincham, não ganem, não choram e não gritam, mas também sofrem.
Mas salvar peixes não conta.
Vamos só salvar animais fofinhos.
Bruno Ribeiro
Estimados Leonor e Bruno,
Obrigado pelas vossas palavras simpáticas.
* * *
Estimado Santana-Maia,
Agradeço o seu comentário e a sua perspectiva.
Permita-me só que comente que acho o comentário Um abraço de quem (quase de certeza) gosta muito mais de animais do que o senhor. deveras desapropriado porque, sejamos pragmáticos, não nos conhecemos e, por conseguinte, não tem rigorosamente dados nenhuns para substanciar uma afirmação tão poderosa.
Independentemente desse facto, aplaudo (com sinceridade) as suas adopções múltiplas.
Ainda neste ponto (e correndo o risco de transformar este debate num despique para ver quem gosta mais de animais) posso acrescentar que:
- Em 1990 candidatei-te à Universidade e inscrevi-me em um único curso: Biologia Marinha e Pescas. As outras 5 opções ficaram em branco. Estudar e trabalhar com Tubarões era a carreira que queria. Não estava disposto a aceitar qualquer outra opção.
- Licenciei-me em 1994 e desde essa altura tenho trabalhado com estes animais em meio natural e em cativeiro. Entre saltos para dentro de água para libertar Tubarões-tigre de 3 metros presos em anzóis, entre injecções intra-musculares de antibióticos em Tubarões-touro de 2 metros, entre mergulhos nocturnos para administrar alimentos directamente no estômago de uma Manta fragilizada, capturas à unha de vários animais (muito semelhantes às pegas de cernelha) e muitos, muitos outros exemplos, julgo contar, facilmente, com uma bela centena (talvez mais) de salvamentos de Tubarões, Raias e outros peixes.
Um abraço e votos sinceros de um óptimo fim de semana,
João Correia
Bem desta vez o professor excedeu-se um bocadinho, e de tão completo deixa pouco a acrescentar a não ser mostrar solidariedade, adorei sem duvida o texto.
Actualmente sou contra as touradas, mas já houve uma altura quando era bem novinho em que assistia a touradas com o meu avozinho e não me arrependo disso, agora, a partir do momento em que se começa a ter dois dedos de testa e a analisar as coisas, facilmente chegamos a conclusão que as touradas são no mínimo uma tradição sádica, e se arrancar um animal do pasto, cortar-lhes as pontas dos cornos a sangue frio (e se acham que não dói experimentem a cortar as unhas até ao sabugo, é que muitas vezes é atingido o miolo do corno e nao deve ser indolor), que para alem de evitar que furem as protecções que lhes são colocadas nos cornos, evita que marrem de forma correcta, pois se os touros falham muitas vezes as cornadas por centímetros, é porque lhes falta 5 centímetros de corno de cada lado (e se há coisa que o touro conhece é onde terminam os seus cornos e vai tentar utiliza-los mesmo estes não estando lá, tal como alguém a quem foi amputado um membro continua a tentar utiliza-lo inconscientemente muito depois de o ter perdido) e não só devido a perícia do cavaleiro ou toureiro, depois entram na arena com dezenas de holofotes a apontar para eles e uma multidão a aplaudir e a fazer barulho deve ser como sair directamente do paraíso para o inferno, e no mínimo aterrador, depois são-lhes espetados um punhado de ferros por senhores armados em machos como se ver um animal a sofrem e a jorrar sangue fosse algo muito belo, (deve ser pois toda a gente aplaude) depois vem a pega, que não vou criticar pois acaba por ser o mal menor dentro de tudo o resto, e finalmente voltam para os curros os que tiverem menos azar recebem uma doze enorme de antibióticos, são lhes arrancados os ferros mais uma vez a sangue frio (a estes com a ajuda de uma navalha bem afiadinha para não estraçalhar ainda mais a carne, os restantes nem a esse “luxo” têm direito) e se depois de tudo isto sobreviverem voltam ao campo para se tornarem reprodutores os menos afortunados que é a grande maioria ficam por ali em sofrimento por vezes mais que um dia e vão para matadouros, os que morrerem antes de chegar ao matadouro ou são cremados ou vão para aterros os restantes são abatidos e acabam em talhos, e por mais absurdo que pareça acabar no prato de alguém é o máximo de dignidade que estes pobres animais podem ter, se isto não é sadismo não sei o que será.
Só tenho pena, é que apenas alguns compreendam o que os seres vivos nos “dizem”, á sua maneira é certo, mas que eles realmente “falam” connosco não tenho duvidas, e se eles gritassem em bom português “ai que medo” “ai que dói tanto”, “por favor pára, não me mates”, as coisas seriam diferentes, e entretenimento deste género já não existia.
Um abraço a todos.
Ricardo carvalho
Sim de facto as touradas deviam ser acabadas para sempre. Só causa sofrimento aos touros. Aquilo espetado nos touros ate morrerem a esvaziarem-se em sangue..horrivel.
Quanto em 1990 se candidatar á Universidade e bláblá e trabalhar com peixes isso nao significa que goste mais de animais que uma pessoa que nao trabalhe nisso. Você faz isso porque é o seu trabalho. É pago para isso. Mesmo que náo seja pago e faça voluntariado não deixa de ser trabalho não remunerado.
Gostar de um animal é compará-lo quase com uma pessoa e sentir na pele quando eles estão tristes ou quando são magoados e conviver com eles,saber trata-los e respeitá-los .
Não quero com isto causar algum conflito mas essa do "salvamentos de Tubarões, Raias e outros peixes" ok muito bem....mas e o resto? existem caes abandonados na rua por exemplo a morrer à fome.
Sei que me estou a desviar do assunto que ate concordo consigo nas touradas mas não pude deixar passar a sua "modestia a parte".
Boas outra vez,
ao ler o comentário do Ricardo (em especial a parte dos cornos cortados), lembrei-me de ir investigar mais um pouco para ver se a batotice ficava por ai, mas não.
Em Espanha (os defensores das touradas vão dizer obviamente que nós não temos nada a ver com Espanha, mas isto é apenas para demonstrar a brutalidade do conceito "tourada") quando os "picadors" chegam nos seus cavalos para matar o touro, os seus cavalos chegam alterados, como se de um carro "tunning" se tratasse.
Em primeiro lugar tapam-lhes os olhos e as orelhas de modo a que eles não oiçam ou vejam a chegada do touro, mas o cavalo fica stressado na mesma porque obviamente sente o perigo, e o mais engraçado no meio disto tudo é o facto de cortarem as cordas vocais ao cavalo antes da tourada para caso ele seja "danificado" os sensiveis aparelhos auditivos espanhóis não ouvirem o esgar de sofrimento do cavalo.
Agora em Portugal, e para completar a informação do Ricardo e do Professor, os touros após a tourada como já foi dito vão para o "corredor da morte" onde podem ficar dias, isto porque os matadouros não funcionam ao fim de semana, para que eles não continuem a sangrar, é-lhes muitas vezes posto sal nas feridas, tal e qual um belo dum bacalhau.
Outra curiosidade que li num site, mas que não posso comprovar a veracidade é que o touro bravo não é agressivo (ou digamos mais agressivo que outro boi qualquer), ele torna-se agressivo pois está a lutar pela sua vida.
Para finalizar e já que adoramos tanto falar dos desastres com os seres humanos, só em 2004 morreram 6 pessoas devido a touradas (dados do site www.league.org.uk). Não se esqueçam dos numeros restritos de sitios onde se realizam touradas, por isso é que 6 é um numero importante.
Por enquanto não tenho mais nada a acrescentar,
um abraço ao Ricardo e ao Professor João.
Bruno Ribeiro
Estimados Bruno e Ricardo,
Obrigado pelos vossos novos comentários e dados assustadores que, confesso, desconhecia. Quanto mais informação leio / vejo / ouço sobre este assunto mais estupefacto fico com a impunidade com que tudo isto ocorre.
O caso recorda-me um discurso famoso do Dr. Martin Luther King, que apontava as injustiças sociais (para usar uma expressão muito eufemística) a que os negros eram submetidos nos E.U.A., na altura em que viveu. Nesse discurso, o Dr. King referia que, mais do que as atrocidades propriamente ditas, o que realmente o perturbava era a apatia da sociedade em geral perante as mesmas.
Quando, pergunto eu, teremos um membro do Governo com os tomates para pôr fim a esta prática? (perdoem-me o vulgarismo da expressão, mas não encontro outra que represente tão bem o espírito aqui necessário)
Há alguns anos denunciaram-se os espectáculos nos quais ciganos da Europa de Leste obrigavam Ursos (presos com uma argola no nariz) a dançarem para um público que lhes atirava moedas e aplaudia. Depois de alguns vídeos na net a comunidade internacional demonstrou a sua revolta e estes espectáculos foram tornados ilegais.
Ponto.
Na altura ninguém questionou se a proibição ia pôr fim à espécie de ursos (Europeus) usados no espectáculo que, por acaso, estão seriamente ameaçados.
Ninguém ousou sugerir que se devia permitir o espectáculo, para impedir que os Ursos desaparecessem.
Qual é, então, a diferença entre os Ursos e os Touros Bravos?
É simples, é que os coitados dos 20~30 (?) ciganos da Europa de Leste que faziam estes espectáculos nunca pagaram um almoço a ninguém, nunca levaram um deputado numa passeata ao estrangeiro, nunca ofereceram bilhetes (na primeira fila) para o Ricky Martin a ninguém...
Reparem no calibre das ofertas de que estamos a falar...
Eu até talvez compreendesse (embora não aceitasse) que uma pessoa se deixasse influenciar por um Learjet, por um Lamborghini Gallardo, por um depósito de um milhão de euros numa conta off-shore, etc.
Compreendia, mas não aceitaria.
Agora, fechar os olhos à carnificina que é uma Tourada por uns almocitos, um fim de semana numa Pousada de Portugal, uns bilhetes para um espectáculo, uns jantares num sítio caro e in?... Please... Se é isso que é preciso para travar este fenómeno, estou certo que nós, defensores dos Touros Bravos, conseguiremos fazer uma colecta e arranjar uns trocos que permitam equilibrar este lobbying que, até à data, só tem puxado para o lado que mantém o status-quo e não balança o barco...
E para que não se diga que falar é fácil mas ninguém faz nada, pois fiquem sabendo que esta discussão será partilhada com diversos colegas / amigos da Direcção Geral Veterinária e outros funcionários do Estado que, espero, possam apreciar a argumentação que originou este debate (e que ainda ninguém desmontou).
Cumprimentos sinceros,
João Correia
Estimado Anónimo,
Agradeço o seu comentário e agrada-me que esteja do nosso lado.
Uma palavra rápida quanto ao ponto Quanto em 1990 se candidatar á Universidade e bláblá e trabalhar com peixes isso nao significa que goste mais de animais que uma pessoa que nao trabalhe nisso. Você faz isso porque é o seu trabalho. É pago para isso. Mesmo que náo seja pago e faça voluntariado não deixa de ser trabalho não remunerado.
Temo que tenha incorrido num erro comum dos utilizadores da internet: não me conhece de todo e avança com suposições sem ter uma grama de substância para as apoiar.
Correndo seriamente o risco de estar (novamente) a permitir um desvio do tema central deste debate (saudável), permita-me que acrescente a seguinte anotação: muitos dos salvamentos em que estive envolvido foram, de facto, trabalho; e muitos foram voluntariado; e muitos foram, até, voluntariado pago (por mim).
Mas o ponto fundamental que pretendo avançar é que sou uma das (raras?) pessoas que adora o trabalho que tem. Nem o considero trabalho. Considero-o um privilégio.
Talvez seja por isso que, ocasionalmente, e nas folgas, pague para fazer exactamente o mesmo que faço durante a semana, em horário de expediente. Vem-me à memória, por exemplo, o dia 9 de Agosto deste ano, em que participei (pelo 8º ano consecutivo) no Torneio de Pesca Catch & Release organizado pelo Clube de Pesca Desportiva Zuca, de Sesimbra.
Nesse Torneio capturámos um soberbo Anequim (Isurus oxyrinchus) de 1.5 m de comprimento total, medimo-lo, marcámo-lo, libertámo-lo. E isso deu trabalho. Muito trabalho. E gastámos dinheiro para o fazer. Aliás, faço parte da Direcção da APECE (www.apece.pt) há vários anos e é isto que fazemos: gastamos tempo e dinheiro para estudar / investigar / conservar e, em última análise, salvar animais, especificamente Tubarões e Raias.
Porque não o fazemos com os cães e gatos abandonados na rua? Bom, porque não podemos salvar todos os animais do Mundo, certo?
Nós concentramo-nos nos Tubarões e Raias.
Outras pessoas concentram-se nos cães e gatos vadios.
Outras pessoas concentram-se nos Burros, nos Touros Bravos, Lobos, Rinocerontes, Elefantes, Atuns, Pandas, Ursos, etc., etc.
Quando diz Não quero com isto causar algum conflito mas essa do "salvamentos de Tubarões, Raias e outros peixes" ok muito bem....mas e o resto? existem caes abandonados na rua por exemplo a morrer à fome. não está, espero, a insinuar que o esforço dos que se dedicam à protecção de Tubarões e Raias é menos digno do que o esforço dos que se dedicam à protecção de animais com pêlo.
E permita-me que chame a atenção para o facto de que o número de pessoas envolvidas na protecção e salvamento de mamíferos maltratados é abundante.
O número de pessoas envolvidas na protecção e salvamento de peixes não é.
Em boa verdade, não conheço mais ninguém, em Portugal, que o faça. E, mesmo assim, arranjamos tempo para dar uma ajuda aos Touros. E aos Cães alegadamente perigosos, como poderá ler no meu primeiro post.
Cumprimentos sinceros,
João Correia
Permita-me agora eu uma palavra rápida quanto ao paragrafo:
"Temo que tenha incorrido num erro comum dos utilizadores da internet: não me conhece de todo e avança com suposições sem ter uma grama de substância para as apoiar."
Como sabe se não o conheço? Mesmo que qualquer pessoa que vá ler o seu "pequenito texto só vê glorias e glorias mas eu nao vejo nada"
Isso dos salvamentos nao me diz nada . Isso é a sua grama de subtância para o apoiar? Você não sabe o que faço também, por isso axo que aqui nem valeria a pena falar do que faz porque isso nem interessava para o tema que anunciou. Qualquer coisinha aproveita para dizer que "eu fiz isto e aquilo....o que interessa isso para o tema?
Quanto ao: " Mas o ponto fundamental que pretendo avançar é que sou uma das (raras?) pessoas que adora o trabalho que tem. Nem o considero trabalho. Considero-o um privilégio."
Eu acho uma piada e axo que aqui quem está induzido em erro é o sr. Viu como está completamente enganado? Eu adoro o meu trabalho e não o trocava por outro nem que ganhasse mais.
Aqui continua o blablá: "Talvez seja por isso que, ocasionalmente, e nas folgas, pague para fazer exactamente o mesmo que faço durante a semana, em horário de expediente. Vem-me à memória, por exemplo, o dia 9 de Agosto deste ano, em que participei (pelo 8º ano consecutivo) no Torneio de Pesca Catch & Release organizado pelo Clube de Pesca Desportiva Zuca, de Sesimbra. ..... "
Eu também não estou aqui a falar do que faço no trabalho pois não? Nem dos premios que ganhei? E o ano consecutivo....para que?
Continuando...:
"Quando diz Não quero com isto causar algum conflito mas essa do "salvamentos de Tubarões, Raias e outros peixes" ok muito bem....mas e o resto? existem caes abandonados na rua por exemplo a morrer à fome. não está, espero, a insinuar que o esforço dos que se dedicam à protecção de Tubarões e Raias é menos digno do que o esforço dos que se dedicam à protecção de animais com pêlo."
Bom...isso podia ser descutido ..mas o tema saudável ia desviar-se para outros caminhos pois isto tinha muito que se lhe diga...se formos comparar quem sofre mais...um tubarao ou um cão por exemplo...e que é mais amigo do Homem...o tubarão ou o cão? E se me perguntar o que salvava um cão ou um tubarao? Ora bem...o tubarão até nem nunca matou pessoas....e o cão é o melhor amigo do Homem...Ok escolha dificil... posso estar a pensar em prioridades. Ninguem aqui quer sofrimento de nenhum animal mas o que me incomodou foi o facto de relacionar o tema com o seu trabalho que nada tem a ver com as touradas e que continuo a dizer que isso não tem nada a ver.
As touradas sao um exemplo de um mal que o Humano cruel e mau faz ao animais. Existem muitas outras crueldades: Cães no qual são colocados anzois e são lançados vivos ao mar para servirem de isco ao tubarão, gatos dentro de frascos, que sofrem durante anos, luta de cães até a morte, patos que sao "enxidos" com gordura ate ficarem tao gordos para vender que nem se conseguem mexer e são comidos aos poucos pelas ratazanas porque não se conseguem movimentar devido ao excesso de peso. Infelizmente vivemos neste mundo e temos que mudar estas coisas aos poucos.
Mas para concluir e voltando ao tema: As touradas são uma crueldade e deviam ser acabadas por completo.
Podemos já comecar por aqui que já é bom. E se toda a gente ajudar (e não precisam de trabalhar com animais) talvez se conseguisse algo. So falta saber como e os meios para atingir esses objectivos.
Cumprimentos
Reza a lenda que as Touradas, sao muito antigas. Provenientes inclusive dessa terra que ninguem sabe muito bem onde fica, nem o que era, a que nós chamamos Atlantida.
Ha livros que descrevem as touradas do muito antigamente como um bailado entre o homem e a besta, nao ha relatos de serem espicacados, nem sequer mutilados com ovacoes dos espectadores.
Era simplesmente um bailado de supremacia do homem face a natureza.
Pergunto-me se nao teremos comecado a espicacar os animais, a sangra-los na arena, por ja nao sermos fiscamente capazes de lhes fazermos frente. Se assim tiver sido, acredito que tenha sido uma atitude muito cobarde.
Mais valia termo-nos rendido as evidencias, que ja nao somos assim tao primitivos quanto isso.
Eu ja fui a muitas touradas, ja aplaudi a muitos toreios, pegas, garraiadas, inclusive ja vivi a situacao desagradavel de estar sentada em cima de um curro onde um touro prendeu um corno numa estaca, e como devem imaginar, foi uma experiencia tremor de terra que nao desejo a ninguem.
Se gosto de tourada? tenho de dizer que sim, que gosto de toda a cultura tauromaquica a sua volta, das terras do alentejo, dos cavalos ornamentados, dos forcados que enfrentam a morte numa pega, numa largada de um domingo de manha bem disposto, no matar o touro e dividir a sua carne pela aldeia inteira.
Pois, ou pensavam que a carne ia para o lixo?
As touradas de morte foram proibidas, mas digo-vos que prefiria ver o touro morrer na arena, de golpe certeiro e digno, que morrer tres dias depois a espera do Sr. Veterinario, que trabalha das nove as seis aos dias uteis.
Antigamente o touro trazia carne boa a muita gente da aldeia que nunca via carne sem ser no Natal. Era dividido, de forma igual pelas gentes.
Hoje em dia, as pessoas ate devem ter nojo do metal das farpas e preferem nao comer.
Nao defendo a carnificina da tourada.
Mas tambem nao sou tao acerrima como o Joao.
O que farao aos touros, caso acabem com as touradas?
Terao de os manter em reservas, porque enfrentarao a extincao...
Como e que sera que a Lamborguini ira depois chamar aos seus carros, se ja nao tem os touros de lide exemplar a quem se inspirar?
Duvido que acabem com as touradas no nosso país, pelo menos nos proximos tempos, ja acabaram com as de morte, se bem que toda a gente sabe que no alentejo a maior parte delas continua a se-lo, so nao matam na arena.
Duvido que acabem, por razoes politicas.
Nao vou a uma tourada ha anos, tambem nao tenho saudades.
Acho que teria pena se acabassem com elas, mas por cinco minutos e depois esqueceria.
Acredito firmemente que todas estas accoes de sensibilizacao e de mudanca de mentalidade e atitude sao necessarias e trazem progresso, mas sao extremamente dificeis e lentas de se conseguir.
Toda a gente gosta de caes, mais nao seja porque e bonito... esta na moda, mostra personalidade gostar-se de uma determinada raca de cao.
Mas quando ja se assumiu o compromisso, que se fez perante um animal que nao pediu para vir ao mundo, nao se deixa esse animal para tras, nao se abandona...
Da mesma forma com as touradas... quando se assume o compromisso de ser contra, nao se vai, expressa-se assim a sua opiniao. Se nao houver procura, a oferta tera de minguar.
O segredo esta, nao em mostrar como os outros que gostam de tourada sao parvos, mas sim, em fazer ver, a seu tempo, que e uma pratica que nos dias de hoje e da forma como se transformou nao tem razao de existir.
Marta
Permita-me o senhor anónimo que lhe responda, não me querendo intrometer na discussão acérrima com o professor João e mais uma vez fugindo ao ponto essencial: TOURADAS.
Como estudante de Biologia Marinha não posso evitar confrontá-lo quando diz: "Bom...isso podia ser descutido ..mas o tema saudável ia desviar-se para outros caminhos pois isto tinha muito que se lhe diga...se formos comparar quem sofre mais...um tubarao ou um cão por exemplo...e que é mais amigo do Homem...o tubarão ou o cão? E se me perguntar o que salvava um cão ou um tubarao? Ora bem...o tubarão até nem nunca matou pessoas....e o cão é o melhor amigo do Homem...Ok escolha dificil... posso estar a pensar em prioridades."
Vou-lhe tentar explicar isto da maneira mais simples possivel, espero se disser algo de errado que o professor João me corrija.
Em primeiro lugar e pelo que escreveu é fácil deduzir que mais facilmente salvaria a vida a um cão que a um tubarão, ou que vale mais a pena salvar a vida a um cão porque não mata pessoas. É nestas coisas que mais valia estar calado. Que eu saiba o cão não é um animal ameaçado (e quero deixar bem claro antes de continuar que amo cães, e que não nos encontramos numa situação em que somos obrigados a escolher). É nestas situações que não posso ficar calado. O tubarão para além de ter umas valentes espécies ameaçadas é muitissimo importante para o seu ecossistema, mantendo o controlo populacional das suas presas e como elemento selectivo na evolução (os mais fracos e lentos são "comidos").
Portanto, se decidirmos salvar todos os cãezinhos e deixar os tubarões de lado, qualquer dia os nossos oceanos são uma anarquia e quem acabará por sofrer somos nós.
Mas que se lixe o mauzão do tubarão, quando nós podemos dar uns biscoitos ao "bobi".
Peço desculpa por fugir do tema, não o volto a fazer.
Abraços
Bruno Ribeiro
Estimadíssimos Anónimo 1, Anónimo 2 e Super Bruno,
Muito obrigado pelos vossos comentários e esclarecimentos, que li com muito apreço.
Tenho apreciado muitíssimo esta discussão, apesar dos desvios pontuais, porque tenho aprendido muitos factos que desconhecia.
Achei curiosa a referência à dualidade Tubarão vs. Cão no contexto em que foi colocada, ou seja, assumindo-se que os Tubarões matam seres humanos e o cão é o melhor amigo do Homem.
Pois ficarão surpreendidos se V/ disser que, por ano, os Tubarões matam 4~5 seres humanos no Planeta Terra todo (números estes devidamente substanciados e até referi a fonte dos mesmos no meu post sobre Cães Perigosos). Não preciso de V/ dizer quantos seres humanos os cães matam por ano mas serão, seguramente, bem mais do que 4~5...
E obviamente que não digo isto para que se conclua que os cães são perigosos e, como tal, não devem ser salvos. Absolutamente não.
Aliás, basta ler o meu post sobre cães perigosos, e a super e doce Anouk, para saber o que sinto em relação a este tema.
Referi esta disparidade meramente para demonstrar que o factor emoção é deveras preponderante nestas matérias e, infelizmente, condiciona muitas posições erradas.
É certo que, nos meus últimos comentários, abundam as referências a coisas interessantes que tenho feito. Mas uma leitura mais cuidada de toda a cadeia de posts teria revelado que essas referências não surgiram por geração espontânea: surgiram na sequência de um comentário que colocava em questão a minha legitimidade para falar sobre estes assuntos. Acontece que até tenho legitimidade (e conhecimento de causa) para falar destes assuntos e pareceu-me apropriado demonstrá-la.
Renovo os meus cumprimentos e votos sinceros de um óptimo fim de semana para todos e uma excelente semana de trabalho.
Abraço,
João Correia
Aborrece-me que as pessoas não se consigam concentrar no tema concreto de um debate e passem ao ataque pessoal. Que é que a mim me interessa que o autor passe a vida ou não a falar dos seus feitos profissionais? Qualquer pessoa percebe que o faz não por vaidade, mas sim para credibilizar os seus argumentos. Parabéns pelo Post!
Estimadíssimo Anónimo,
Um grande abraço e agradecimentos calorosos pela visão clara da situação.
Voltemos, de facto, às Touradas!
Uma óptima semana para todos os intervenientes,
João Correia
Antes de começar a dizer babuseiras, é preciso salientar que o professor "teve-os no sítio" para pegar num tema muito controverso e que se calhar deveria ir para um grupo de forcados 8P. Para mim, a questão das touradas é difícil de falar/concretizar/explicar, pois quer queiramos quer não, eu penso que esteja ainda enraizada na cultura portuguesa (um amigo meu forcado já foi fazer pegas à Califórnia, para comunidades portuguesas) e aliás, é um tema que não gosto de discutir muito com amigos pq não costuma levar a lado nenhum e mais vale ir beber uns copos pa arrefecer os ânimos 8P, mas de qualquer maneira apeteceu-m comentar isto no blog do prof nem q seja só para dizer que já falei aqui 8P. Continuando...Olá Professor, Ricki e Brunations:
Se calhar vão ficar um pouco desiludidos comigo, mas tenho a confessar que gosto de touradas, não a 100%, mas gosto um bocado, talvez por o meu pai também ser Ribatejano :P. Há uns anos, sensivelmente, talvez uns 4 ou 5, eu não ligava muito às touradas, mas depois de ter visto na TV a Associação ANIMAL a fazer uma manifestação na porta do Campo Pequeno e noutros sítios (penso que perto de circos), olhei melhor para o que essa associação criticava e comecei a gostar mais um bocadinho. Por vezes penso que as associações deveriam pensar numa maneira melhor de divulgar as suas ideias e não serem um pouco ridículos (ia usar a palavra extremista, mas achei muito forte), mas isso é uma opinião minha.
Em relação a touradas, eu explico o que gosto: gosto muito da pega (até tenho um amigo meu q é forcado nos Amadores de Coruche), pq demonstra a força Homem vs Animal (apesar de o prof ter razão qd diz q eles antes são lidados), gosto também de uma coisa que raramente se faz em Portugal, que é o toureio a pé, pois mais uma vez coloca o Homem em pé de igualdade com o Animal (e concordo com o prof qd diz q é preciso ter os "tins-tins" nos sítios) e, por fim, gosto qd um toureiro, com a sua capa, lida o touro a pé, pois dá mesmo a ideia q faz uma dança. Já agora, aqui fica um vídeo de uma pega, mas é melhor ir buscar um lencinho de papel 8P http://youtube.com/watch?v=jXSdpG2NHFM .
Já percebi que o prof estudou o assunto, pois os seus argumentos estavam correctos; só queria acrescentar uma coisa que esse meu amigo forcado me disse, mas que nao sei se actualmente acontece que era: depois das touradas os touros não podiam ir para os matadouros, era fim-de-semana, logo os touros sofriam mais 1, 2 ou 3 dias, mas como referi não m recordo s isso, actualmente, acontece (depois de ter escrito isto é q reparei q o Ricardo tb já o tinha dito).
Como o professor reparou eu nao disse nada sobre as touradas em si, pois gosto de umas coisas, mas nao gosto de outras (e quero salientar, que nao gosto mesmo das touradas em Espanha).
Agora se o prof m permite gostaria de dizer umas palavrinhas ao anónimo. É preciso dizer que o A (diminutivo do Anónimo) teve muita lata em vir ao Blog de outras pessoas criticar o que elas fazem e as glórias que elas têm ou deixam d ter. Tive a pesquisar na internet sobre o A e penso que seja um advogado de Abrantes que escreve muitos blogs, logo aí se percebe pq adoptou vários cães e gatos, mas também espero que tenha disponibilizado alguns "trocos" para outro tipo de instituições (como Uniões Zoófilas, Jardim Zoológico, Aquário Vasco da Gama, etc). É q para mim, adoptar cães e gatos só para vir para blogs impressionar as pessoas, não m diz rigorosamente nada. Tenho que bater palmas qd, se pensa q quer afirmar que ja salvou mochos, corujas e águias. Mas também deveria ter-se informado que os Oceanos e Mares estão numa miséria e q o meu estimado professor, amigo e colega João Correia, faz exactamente o mesmo que o A, mas nos oceanos. Talvez o A poderia tentar reproduzir animais aquáticos e repovoar os mares...isso era bem melhor que adoptar cães e gatos.
Fugi muito mesmo ao assunto, mas não concordei que pessoas como o A viessem para blogs armados em amigos de cães, gatos, águias, corujas e mochos.
Aqui ficou a minha opinião sobre touradas, apesar de não ter dito nada de jeito.
Abraço grande para o JC
Estimadíssimo Carlos,
Obrigado pelas tuas palavras simpáticas e honestas.
Um super mega abraço,
João
Boa Tarde Professor.
Depois de ler o seu artigo sobre as touradas tenho também algumas coisas a dizer.
1º Sou desde pequeno adepto da touradas e sinceramente gosto de as ver.
2º Gosto muito de animais e concordo com muitas das coisas que disse no post mas para mim não é facil convencerem-me a deixar de gostar de touradas.
3º Quando o professor diz, em relação ao 2º argumento, e passo a citar "Então e as exposições? Os concursos? As feiras? Os prémios de Melhor Touro do Ano? Os negócios entre criadores, que estão sempre a disputar e a negociar o melhor macho e a melhor fêmea? E porque não subsídios governamentais (na forma de incentivos fiscais, descontos no gasóleo, mais deduções no I.R.C., etc., etc.) para os criadores desta raça?" tenho algumas reticências quanto a isto. Os ganaderos disputam sim o melhor macho e melhor fêmea porque necessitam de bons touros para as touradas. E acabando estas, deixa de ser rentável criar estes magníficos e imponentes animais.
4º Acredite quem quiser; ninguém tem mais respeito pelos touros do que os verdadeiros aficcionados da festa brava. A todos aqueles que duvidam disto deviam ter visto a entrevista na RTP 2 no programa "Por Outro Lado" feita ao matador de touros português Mário Coelho e ver todo o respeito demonstrado por este homem ao touro.
"Anyway", este é o meu modo de pensar e por muitas conversas que tenham comigo acerca das touradas (que já foram muitas mesmo) não vou mudar de opinião. Respeito muito quem tem uma opinião diferente da minha, mas não tentem mudar a minha opinião, porque não vão conseguir.
P.S.-Physalia physalis disse: "Mas sei que o touro que sai morto (ou meio-morto) das touradas não vai ser alimento!". Isto não pode estar mais longe da verdade, o touro após as touradas é levado para o matadouro e a sua carne é vendida para alimentação
Um Abraço ao Professor João Correia, ao Ricardo Carvalho e ao Carlos Mourão.
Boaventura Carlos
Estimadíssimo Boaventura,
Obrigado pelo teu comentário honesto. Aprecio sempre um diálogo franco e aberto, mesmo que não partilhemos a mesma opinião.
Aproveito a oportunidade para fazer um ponto da situação deste debate interessante.
Em primeiro lugar, vou pegar no primeiro argumento pró-tourada que foi apresentado, e no qual também tocaste: a falta de rentabilidade em criar touros, se não existirem touradas, e o desaparecimento da raça.
Há alguns dias fui com alunos a Olhão e, no regresso, vinha a admirar a paisagem Alentejana. Vi muitas manadas de bois e vacas. Eram de raça Charolesa, creio, mas posso estar a meter os pés pelas mãos. Mas, enfim, estou a falar daqueles animais com côr de ‘café com leite’, que vemos a pastar tranquilamente na beira da estrada. Como todos sabem, destinam-se a alimentação.
Ora, correndo o risco de estar a colocar uma questão ignorante, não resisto a perguntar qual seria, exactamente, o problema em misturar uns Touros ali pelo meio?? Ou, se pretendermos evitar cruzamentos entre raças, porque não ter pastos só para Touros Bravos? Porque não criá-los para os comermos, tal como fazemos com as vacas leiteiras, com as vacas charolesas, com as cabras, as ovelhas, os porcos, os frangos e as galinhas?
Porque não?
Porventura até terão uma carne bem mais deliciosa do que a famosa picanha da América do Sul e, como todos sabem, um dos passos críticos na redução da pegada ecológica global é reduzir o trajecto de viagem do que consumimos.
Pois não seria a carne de Touro Bravo Ribatejano, criado à chuva e ao Sol, rem rações, uma solução bem mais saudável, ecológica e financeiramente vantajosa do que estarmos a importar carne que vem do outro lado do Mundo?
E porque não soltarmos alguns Touros Bravos em reservas (que já temos umas tantas em Portugal, graças a Deus) e deixá-los à solta?
Os cavalos de raça Garrana andam aos pulos, selvagens, na Serra do Gerês. Os cavalos Lusitanos, Alter e Soraya abundam nos estábulos pelo país inteiro. Porque é que só o Touro Bravo tem este estigma de que só serve para a Tourada? Então não podemos soltar uns tantos em terrenos fechados e deixar a natureza seguir o seu curso?
Os Veados, os Javalis, as Raposas, os Coelhos, etc., safam-se. Porque é que uns Touros não se safariam também?
* * *
Em segundo lugar, um comentário Anónimo referiu-se quanto ao significado cultural das touradas e até apontou como exemplo o facto de a marca Lamborghini usar um Touro no seu logotipo e, mais importante ainda, dar sempre o nome de um Touro famoso aos seus bólides. Já conhecia este facto e não resisto a partilhar convoco alguns dados interessantes:
- Murciélago era um Touro que fez uma corrida extraordinária em 5 de Outubro de 1879, em Córdoba. O toureiro, impressionado com a prestação do animal, poupou-lhe a vida. Há alguns anos, a Lamborghini ressuscitou o nome deste animal e atribui-o ao seu último modelo.
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- Mas o nosso amigo Murciélago foi ainda mais importante: depois da corrida foi oferecido ao Sr. Don António Miúra, e viria a tornar-se o progenitor de uma das linhas de Touros Bravos mais famosas de sempre, os Miúra.
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- Reventon (que significa explosão em Espanhol) é o mais recente modelo da Lamborghini e foi buscar o nome de um Touro bravíssimo que colheu a vida de Felix Guzman em 1943. Este modelo é, como não podia deixar de ser, o mais potente que a marca já produziu.
- Gallardo, Diablo, etc., são outros nomes de Touros famosos que foram aproveitados para modelos da popular marca automobilística. É claro que não preciso de vos dizer que o Touro Diablo era mau como as cobras!...
Ora, permitam-me que chame a atenção para as datas das prestações dos animais na arena. Como sabem, já houve muitas touradas e muitos touros grandiosos e com prestações soberbas, pelo que não precisamos de sacrificar mais para manter a tradição da Lamborghini. Basta abrir um livro de história tauromáquica e temos nomes para os Lamborghinis dos próximos séculos.
Independentemente destes factos, renovo os meus agradecimentos pelo vosso input porque, convenhamos, um blog sem comentários não tem muito interesse.
Abração a todos,
João Correia
Com todo o respeito, discordo:
1.No circo romano matavam-se pessoas, agora não.
2.Foz Côa foi preservada por causa das gravuras na pedra. E a gravura na alma e costumes ribatejanos, não será de guardar? Desde que, obviamente, não sejam ofendidos valores absolutos, que não é o caso.
3.Questão da capoeira:choca-nos - é evidente! - a maneira como são criados os animais para abate, assunto sobre o qual muito haveria a fazer! Mas o ponto não é sequer esse: o ponto são os milhares de podengos e similares - cãezinhos admiráveis, de porte médio ou pequeno, com extraordinária inteligência e ainda mais extraordinária afeição ao dono - que vivem por todo o nosso País, particularmente na zona Entre Douro e Minho, a sua vida inteira amarrados a um cadeado, com fome, com sede, a serem comidos pelas moscas; para, quando chegarem a velhos - bruta fereza de quem os tem! -, serem levados para local ermo e distante, abandonados à morte pela sede (porque mata mais depressa do que a fome). Este, sim, é o ponto, a cruzada a abraçar, e face à qual, parece-me, todas as outras se apagam...
Com um abraço, peço-lhe que acredite que tenho todo o respeito pelas considerações que vem expendendo.
Boa tarde,
Chamo-me Raquel, e estudo Biologia no Porto.
Descobri este blog recentemente e acho que o post sobre as touradas está tão brilhantemente pensado e escrito, que passei a indicá-lo a todas as pessoas sempre que há uma discussão sobre este tema.
O autor está, obviamente, de parabéns.
Aproveito apenas para adicionar à discussão um "pequeno" pormenor acerca da igualdade da luta entre o touro e o toureiro:
Não é necessário, como acontece tão frequentemente, começarmos a discutir a força física de um e de outro; basta ter em conta que o toureiro ESCOLHEU estar ali, na arena, enquanto que o touro não teve a hipótese de o fazer.
E contra esse facto, não há (necessidade de) argumentos.
Estimada Raquel,
Agradeço as palavras simpáticas e o comentário super pertinente acerca do facto de o touro não ter escolhido estar na arena.
Muito bem observado! Não me esquecerei desse detalhe da próxima vez que me vir envolvido numa discussão sobre esta tema - o que acontece com alguma frequência... ;-)
Cumprimentos sinceros,
João Correia
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